A culpa do Papa

Foto por Cedidas por José Maria C.S. André

– apontamentos sobre a visita de Francisco à Irlanda

Compreende-se o que é ser Papa quando se descobrem as infinitas culpas que recaem sobre ele. O assunto surpreendeu a Comunicação Social no Jubileu do ano 2000 e voltou a chamar a atenção nesta visita à Irlanda.

Ao comemorar o segundo milénio do nascimento de Cristo, em vez de celebrar o triunfo da presença cristã no mundo, João Paulo II organizou celebrações penitenciais, para pedir perdão pelos pecados cometidos ao longo dos séculos. Hoje (Domingo 26 de Agosto), na Eucaristia celebrada em Dublin, Francisco, convocou toda a assembleia para um acto penitencial: «quero colocar estes crimes diante da misericórdia do Senhor e pedir-Lhe perdão». A enumeração foi longa: «peçamos perdão por…», «peçamos perdão por..». Depois de ter pedido perdão 10 vezes por tipos de crimes concretos, concluiu: «O Senhor mantenha e faça crescer em nós este estado de vergonha e de arrependimento, e nos conceda a força de nos empenharmos a fim de que nunca mais aconteçam estas coisas e se faça justiça. Ámen». Em várias ocasiões da visita à Irlanda, Francisco insistiu neste tema.

Lembro-me de alguns historiadores não católicos terem declarado à imprensa, no ano 2000, que João Paulo II se tinha enganado. Ele não cometera aqueles crimes – os avós dele nem tinham nascido – e, na maioria dos casos, os culpados não eram católicos e tinham perseguido a Igreja por os denunciar.

Agora, o Papa Francisco insiste em pedir perdão a Deus, com vergonha e arrependimento, por crimes de que nem sequer teve notícia até há pouco tempo. Pouco antes de partir para a Irlanda, escreveu aos católicos do mundo inteiro convidando-os a reconhecerem a culpa, arrependerem-se e jejuarem, pedindo perdão a Deus e à humanidade. Como é que alguém pode ser culpado de crimes que não cometeu? De crimes de que desconhece tanto os agressores como as vítimas? Em locais onde nunca esteve, em datas e circunstâncias que ignora?

A perplexidade leva-nos a compreender que recai sobre o Papa e sobre toda a Igreja algo extraordinário que – tanto quanto sei –  só aconteceu ao próprio Cristo. S. Paulo chega a dizer de Cristo que «Deus O fez pecado por nós» (II Cor 5, 21). Não está a falar das calúnias dos inimigos, S. Paulo diz que foi o próprio Deus que O fez pecado.

O mistério do mal é indissociável do mistério da redenção. E a redenção não consiste em os maus pagarem pelos seus pecados e os bons serem recompensados. Na carta aos Gálatas, S. Paulo explica que «foi Cristo Quem nos redimiu da maldição (…) quando, a Si próprio se tornou maldição em nosso lugar, como está escrito…» (Gal 3,1 3).

Engana-se quem imagina que os Papas fazem declarações inflamadas para influenciar os tribunais, ou confundem a justiça com a vingança, ou estão mal informados acerca das responsabilidades históricas que tocam a cada um. Pode não se compreender o coração de Cristo, mas esse mistério merece um imenso respeito.

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