“Tentamos que professores e alunos acreditem que é possível fazer melhor”

Foto por Sara Susano

PERFIL

Nome: Luísa Maria Picado da Naia Sardo
Data de nascimento: 14 de janeiro de 1959
Naturalidade: Aveiro
Grau Académico: Licenciatura Ensino Básico – variante de Matemática e Ciências; Pós-graduação em Administração Escolar e Mestrado em Gestão Escolar
Percurso Profissional: Professora de 1º e 2º Ciclos
Início de funções como diretora do Agrupamento de Escolas de São Martinho do Porto: 26 de dezembro de 2012

Luísa Sardo, de 55 anos, natural de Aveiro e licenciada em Ensino Básico com variante de Matemática e Ciências para o 2º Ciclo, é diretora do Agrupamento de Escolas de São Martinho do Porto (AESMP) desde dezembro de 2012. A’O ALCOA, fez o balanço destes dois anos à frente do agrupamento e falou dos desafios na gestão deste estabelecimento de ensino.

Que balanço faz destes dois anos como diretora do AESMP?
Eu já estava na gestão como subdiretora há alguns anos e dou aulas no agrupamento há 17 anos. Não foi propriamente uma novidade. Já sabia que era uma tarefa árdua e difícil e também um desafio aliciante porque quando conseguimos, estamos nós à frente mas quando corre alguma coisa mal somos também os primeiros a sofrer. Mas faço um balanço positivo em relação ao trabalho feito.

O agrupamento mantém o número de alunos?
O agrupamento tem algum decréscimo de alunos no global, mas a freguesia de Alfeizerão aumentou este ano uma turma. Mas ano após ano o decréscimo da população é evidente. Temos alunos de dois concelhos limítrofes. Isso implica despesas porque alguns têm que vir por meios próprios. Enquanto as câmaras de Caldas da Rainha e Alcobaça têm protocolo para pagamento dos passes, no caso dos alunos da Nazaré são os pais a pagar.

Como têm corrido as Atividades de Enriquecimento Curricular (AEC’s)?
No nosso caso a entidade dinamizadora das Atividades de Enriquecimento Curricular é a IPSS Know How, que tem uma parceria com a Academia de Música de Alcobaça que continua a dar as aulas de música no agrupamento. Era a Câmara Municipal de Alcobaça que dinamizava as AEC’s, deixou de o fazer este ano. No geral o balanço é bastante positivo. Os alunos estão a gostar muito da robótica que é uma atividade nova que está a decorrer nos vários anos.

Quais as principais dificuldades e desafios na gestão de um agrupamento?
Neste momento há dois grandes desafios. Em termos de recursos humanos, há poucos recursos humanos nomeadamente em termos de assistentes operacionais. Outro dos desafios é a forte desmotivação do pessoal docente e não docente. Com a situação atual há algum desencanto na profissão. São os cortes, são as tarefas adicionais o trabalho burocrático e as horas excessivas de reuniões. Quanto aos alunos, é muito bom ter os alunos todos na escola e ninguém andar fora da escola, mas às vezes há alunos que nos dão um trabalhão em mantê-los cá. Temos uma psicóloga excelente e um gabinete de mediação que estão a atuar com os alunos repetentes e alunos desmotivados. A democratização da escola abriu a porta a todos os jovens e veio criar uma nova realidade a que os professores não estavam habituados e para a qual muitos de nós não estamos sequer preparados. O professor tem que saber lidar com a diversidade e ser capaz de provocar aprendizagem em todos os alunos. Pressupõe por parte dos professores uma nova atitude perante a complexidade da profissão. Sem grande rigor científico, mas com alguma graça, alguém referiu que os professores têm de ter a precisão de um neurocirurgião, a paciência de um chinês e o sentido de espetáculo de um entertainer.

O que pode o agrupamento fazer para melhorar as condições de trabalho de professores e alunos?
Em termos de instalações, acho que esta escola nova foi como um balão de oxigénio. Temos gabinetes para trabalhar, que não tínhamos. Os professores passam aqui muitas horas, nomeadamente os professores que são de mais longe que ficam aqui às vezes uma tarde à espera de uma reunião ao fim do dia. Agora têm sítio para trabalhar. Isso é bom. Os do 1º Ciclo ainda não têm tão boas condições para trabalhar. No geral tentamos fazer com que professores e alunos acreditem que é possível fazer um pouco melhor, mas não é fácil.

Se fosse ministra da Educação qual seria a primeira medida que tomava?
Não sei bem o que faria, mas definitivamente não faria o que nos últimos anos os ministros têm feito que é chegar lá e tentar por de parte tudo o que foi feito. Para mim é das piores coisas que se tem feito na Educação. Todos os anos saem diplomas de avaliação novos e nós estamos numa misturada, numa instabilidade constante. Por outro lado, optaria de uma forma inequívoca pela defesa da escola pública capaz de promover um serviço público de educação de qualidade numa escola para todos.

Uma resposta

  1. As escolas, como diz, devem ser as únicas instituições que viram nelas entrar todo o tipo de “clientes”, sem se ter negociado nada sobre essa diferença paradigmática e programática, sem as dotar dos meios adequados a essa mudança. Como instituição-portas-abertas, é último refúgio e o ponto de encontro de todas as impotências e desmandos sociais.
    Percebo muito bem o que quer dizer – tal como todos os que conhecem, verdadeiramente, as escolas. Os comentários maldosos são sempre filhos do desconhecimento e do preconceito.

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