Tiques à portuguesa

Há fenómenos modísticos de linguagem e de outras naturezas que se manifestam ciclicamente na nossa sociedade. Alguns desses fenómenos esfumam-se com rapidez, outros perduram no tempo. Um exemplo atual de um fenómeno linguístico que decerto não vai durar muito: comentadores televisivos, sobretudo no campo desportivo, “descobriram” que todos os substantivos são, ou deveriam ser, do género feminino. Assim, é ouvi-los dizer que “o… a Benfica vai defrontar o… a dragão” e que “o… a Sporting venceu o… a Paços de Ferreira”. É de facto uma tortura ouvi-los constantemente a dizer “o… a…” Outro exemplo, este de outra natureza e que tem perdurado no tempo, é a tendência de muitas pessoas do Porto assumirem uma inexplicável atitude de confronto (complexos?) em relação a Lisboa, sustentando que a capital do norte é sistematicamente preterida e até prejudicada pelas decisões tomadas pelo poder central que, como se sabe, está em Lisboa. Este é um tique que vem de longe e que assumiu nos últimos anos particular evidência, a começar no presidente do Futebol Clube do Porto (em Lisboa vivem os mouros) e na maioria dos autarcas da cidade. De tal forma se agudizou este pseudo-antagonismo, que se chega à palermice de não se apontar Lisboa contra o Porto, mas sim o Sul contra o Norte. Lembro-me de ouvir, há muitos anos, na minha profissão, queixas sobre as sedes dos Bancos, alegando que apenas um Banco tinha a sua sede no Porto e todos os outros se encontravam sediados em Lisboa. Na altura, dei-me ao trabalho de verificar o que se passava na Europa, e notei que a maioria dos estabelecimentos bancários tinham sede na capital dos respetivos países. Pois é, a capital deste país é mesmo Lisboa, por muito que custe…
Vem isto também a propósito do que se passou recentemente com a Agência Europeia do Medicamento, e com a candidatura do Porto. Como se sabe, aquela Agência foi para a Holanda e… justamente para a capital, Amesterdão. E o governo português resolveu, sem mais nem menos, mudar a sede do Infarmed de Lisboa para o Porto. Uma cedência pateta, sem sentido, só para acalmar frustrações, despeitos e complexos de algumas pessoas.

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