As artes como criações humanas são vocacionadas para exprimir realidades transcendentes e dar forma às linguagens e atitudes, através das quais os seres humanos se relacionam com essas realidades. Por exemplo, nos povos primitivos, as artes tinham funções mágicas e religiosas. As artes criavam imagens e símbolos que serviam como sinais de identificação. Digamos que os chamados artistas procuram entender e reorganizar os sinais dispersos em si e na natureza, e criam unidades lógicas de sentido, além disso, podemos frisar que todos os artistas e toda a verdadeira arte aspiram ao Absoluto, ainda que este absoluto tenha dominações de sagrado diferentes, isto é, denominações que não se identificam com Deus, com o Deus-pessoal ou com o cristianismo.
A Comissão Episcopal da Educação Cristã e Doutrina da Fé realizou uma entrevista ao padre Joaquim Félix, intitulada “Os desafios da Arte na “Encarnação da Palavra”, onde este muito sucintamente, mas com muita competência, sustentou a necessidade de uma maior coerência dentro da Igreja em relação à arte. Nesse sentido, o entrevistado começou por afirmar que a Igreja não pode ter medo da cultura. É nela onde melhor podemos compreender o alcance da encarnação de Jesus. Segundo ele, há que ir mais além; existe ainda uma dificuldade para uma certa estética da encarnação de Cristo, dificuldade essa que passa pela visibilidade que cria desconforto, que não nos dá respostas imediatas e que nos obriga a fazer perguntas; que dá tempo para reconhecer, e não apenas para conhecer. Ainda segundo o entrevistado, é necessário caminhar no espaço e sair dele diferente enquanto cristão. Daí a necessidade de ouvir e fazer um apelo à pluri-sensorialidade do espaço, sendo necessário – conclui – criar essa sensibilidade, inclusive e de modo especial, nos candidatos ao sacerdócio.
Pietre Vive é outro grupo de pessoas com espiritualidade inaciana. A sua grande missão, e em certo modo a grande questão, é como podemos anunciar o Evangelho aos que estão longe? Muitas vezes em lugares de fé explícita, em que fazem “serviço da Palavra”. Porém, nos lugares em que se encontram os distantes, o Evangelho segue sendo muito “implícito”. Portanto, donde podemos encontrar os distantes preparados para escutar o anúncio explícito? Existe uma resposta surpreendente pela sua simplicidade: nas igrejas. Nas nossas próprias igrejas. Pensamos que os crentes são “inalcançáveis”, mas na realidade já estão em “nossa casa”, cada vez mais. Pensamos que temos de ir buscá-los com muitas estratégias, mas na realidade são eles que nos buscam desde há muito tempo. Os “distantes” têm vindo buscar-nos à nossa casa e, no entanto, não nos encontram.
D. Teodoro Faria, Bispo Emérito do Funchal, também tem referências interessantes sobre o tema em questão. Numa sua entrevista publicada no Journal do Museu de Arte Sacra do Funchal afirmava que “o património histórico, artístico, cultural deve ser preservado. Não se deve destruir, para contruir algo de novo. Mas, é necessário saber integrar a história, a cultura e a arquitetura de um lugar, salvaguardando a sua identidade original. Em todos os tempos, a Igreja protegeu e defendeu a arte sacra, apoiou os artistas, desenvolveu a teologia da beleza. A Igreja continua exigente e preocupada com a construção e conservação dos edifícios e objetos sagrados, pois representam um valor histórico, artístico e catequético. A arte sacra faz parte da pastoral da Igreja. A arte sacra tem uma função pedagógica, decorativa e artística. As exposições de arte demostram um valor cultural, catequético, que envolvem historiadores, artistas, turistas, teólogos, catequistas e cristãos. Em geral, as obras artísticas sacras, têm mais valor pela sua intenção evangelizadora do que pela sua técnica. O património cultural da Igreja tem como finalidade o serviço da fé. Nesse sentido, – realçava o entrevistado – o Papa João XXIII afirmava que a arte religiosa tem um caráter quase sacramental. O património religioso e cultural da Igreja é, ao mesmo tempo, uma riqueza e um património espiritual. Em 1990, os bispos portugueses evidenciavam as virtualidades evangelizadoras do património eclesiástico, afirmando que a Igreja em Portugal deseja tornar o seu património devidamente acessível, na convicção de que ele é um precioso meio de evangelização. Os bispos afirmam que o património deve estar disponível para toda a comunidade, pois «o património cultural religioso não existe para permanecer fechado, em depósitos inacessíveis, em torres de marfim habitadas só por alguns escolhidos; deve ser colocado ao serviço de toda a comunidade, embora pelas formas e vias consideradas mais adequadas a cada caso». Assim, devidamente aberto ao público, com horários bem definidos e necessariamente conciliados com as celebrações litúrgicas ou outras, o património artístico da Igreja pode servir verdadeiramente à evangelização. A Comissão Pontifícia para os Bens Culturais da Igreja apresenta um manual designado Os Bens Culturais da Igreja, onde reúne os textos redigidos pelo Magistério da Igreja em matéria de formação dos seminaristas aos bens culturais da Igreja, sobre a importância das bibliotecas eclesiásticas para a missão da Igreja, sobre os bens culturais à guarda dos Institutos de Vida Consagrada e das Sociedades de Vida Apostólica, sobre a função pastoral dos arquivos eclesiásticos e a necessidade e urgência da inventariação e catalogação do património cultural da Igreja. O Secretariado Nacional para os Bens Culturais da Igreja em Portugal apresentou, em março de 2018, o Manual de Procedimentos de Inventário de Bens Culturais da Igreja. Pertende ele facilitar o acesso ao conjunto dos trabalhos sectoriais. O manual percorre os procedimentos de itinerário desde o levantamento de dados até ao respetivo carregamento informático. Em 25 de Junho de 2019, o mesmo Secretariado promoveu o II Seminário Thesaurus, inserindo nele os exemplos concretos de património resgatado, descoberto ou valorizado no âmbito dos trabalhos de inventariação, levado a cabo por várias instituições eclesiais. Neste contexto desse II Seminário Thesaurus foi apresentada a Plataforma de Inventário Online, uma plataforma uniformizada.