Ao contrário dos dizeres de um cartaz de propaganda que já vi por aí espalhado “50 anos de compadrio”, o que é certo é que vivemos 50 anos de liberdade. Dos quatro partidos fundadores do regime democrático, dois chegaram aos nossos dias com alguma pujança. Dos outros dois, o CDS foi-se reduzindo, embora sobreviva, e o PCP foi-se encolhendo ao sabor da História, mas ainda dá mostras de sobrevivência. Restam o PSD e o PS, os dois grandes partidos democráticos que eram liderados há cinquenta anos por Sá Carneiro e Mário Soares, duas figuras enormes da política portuguesa e que até eram anticomunistas. Os militantes e ex-militantes destes dois partidos mereciam ter tido, ao longo do tempo, direções que não menosprezassem ou escondessem o seu património e que não utilizassem técnicas de manipulação da verdade, o que aconteceu algumas vezes. Neste aspeto, o PCP é um caso singular, pela ocultação sistemática da verdade e pela manipulação da “história oficial” avessa ao critério de verificação histórica. A colaboração da URSS com a Alemanha nazi até à invasão de 1941 é um caso sintomático dessa manipulação. O PSD não aceita pacificamente os seus documentos fundadores, alegando que eles representam uma adaptação retórica ao radicalismo que se vivia em 1975, para evitar a ilegalização do partido.
O PS está mais à vontade relativamente ao período quente de 1975, pois conservou inúmeros documentos, muitos deles depositados na Fundação Mário Soares. Cinquenta anos decorridos, PS e PSD, em conjunto, têm representado cerca de 70% dos votos em eleições realizadas, e são às vezes designados depreciativamente como partidos do centrão. Despontou recentemente entre nós um novo partido, à extrema direita, na sequência do trumpismo nos Estados Unidos, e de alguns outros populismos que se vão instalando na Europa. É caso para perguntar as idades dos prosélitos deste novo partido entre nós, admitindo-se que se trata de gente que não viveu antes do 25 de abril e que, portanto, não faz ideia do que era o atraso, a repressão, a falta de liberdades dessa altura. É a essa situação que querem regressar?