A história da vida do homem em sociedade nem sempre segue um percurso linear. Sofre de vez em quando uns solavancos, e nem sempre no melhor sentido. Nos últimos anos, temos assistido a um choque, um solavanco de estagnação ou até de retrocesso, com a proliferação de partidos populistas. As ideias que estes partidos defendem são em regra discriminatórias, xenófobas, misóginas. Na Europa, é sobretudo de França que têm emanado, pelo menos desde 1789, os fluxos de ideais e de correntes sócio políticas. Assim foi, também, nos nossos dias, com a família Le Pen a pontificar no campo populista. E este partido, depois de Marine Le Pen o liderar, tem vindo a crescer de forma assustadora.
Nas recentes eleições, o seu Remsemblement atingiu, na primeira volta, números verdadeiramente alarmantes. Os franceses, como que acordando para o perigo da extrema direita, retificaram na segunda volta os resultados eleitorais, tendo comparecido em grande número nas assembleias de voto. A esquerda, fragmentada e desunida, acabou também por acordar, criando uma nova frente popular (NFP). O presidente, Emmanuel Macron, que registava uma enorme queda de popularidade, recuperou também na segunda volta, alcançando o segundo lugar, logo a seguir à NFP e à frente da extrema direita. No entanto, a esquerda e a extrema esquerda, fragmentadas como estão, vão ter enormes dificuldades em formar governo.
O facto de ter sido o egocêntrico Jean-Luc Mélanchon a apresentar-se perante os órgãos de comunicação a proclamar vitória e a perfilar-se para o lugar de primeiro ministro, não vai ter o consenso dos outros líderes da nova coligação. De momento, põe-se a questão: vai a França ser ingovernável?
Situação bem diferente viveu o Reino Unido. Depois de dezassete anos de governo conservador, com disputas internas e fracos desempenhos nos últimos anos, não teve porém oposição à altura, pois o líder trabalhista Jeremy Corbyn revelou-se bastante fraco. O atual líder, Keir Starmer, que parece ser uma figura credível e respeitável, obteve uma confortável maioria absoluta e tomou posse como primeiro ministro. Aqui, pelo menos, não há a ameaça de qualquer força populista. Ao invés, no continente europeu, os bastiões do nacional populismo, segundo as últimas legislativas, são a Hungria, a Polónia, a Itália, a França, a Bélgica, os Países Baixos e a Letónia. Num conjunto de vinte e sete países, Portugal ocupa o 12º lugar.
Para bem do futuro da humanidade, vamos esperar que as forças populistas não continuem a crescer e – o que é de fundamental importância – que Donald Trump não vença as eleições de Novembro nos Estados Unidos.