Nós, portugueses, não admitimos que os estrangeiros digam mal de nós e daquilo que nos pertence. Ao contrário, porém, os portugueses estão sempre prontos a dizer mal de si próprios e daquilo de que dispõem. Já a britânica Lucy Pepper, que tem escrito muito sobre Portugal, defende que os portugueses podem gozar consigo próprios, mas os estrangeiros não.
Pois hoje apetece-me dizer bem de algo que nos pertence: o Serviço Nacional de Saúde e o Hospital de Alcobaça. Nos últimos anos, tive necessidade de recorrer à urgência do nosso hospital por três vezes, a última das quais recentemente, no dia 20 do mês de Agosto findo (feriado). Sempre fui atendido com prontidão, atenção e eficiência. E também com competência. O motivo que agora me levou à urgência era sério, não me permitindo integrar, como previa, o grupo de O ALCOA que, na semana seguinte, rumou a Lourdes. A médica do hospital, quando lhe referi que projetava sair do país em breve, avisou-me que seria melhor não pensar nisso, e aconselhou-me a consultar urgentemente o meu médico especialista. Foi o que fiz no dia útil imediato, em Lisboa. Ao dizer-lhe que pretendia ausentar-me do país daí a dias, o meu médico respondeu-me perentoriamente: “esqueça!” E assim me vi privado de poder revisitar a catedral gótica de Burgos, Património Mundial como o nosso mosteiro, e o Santuário de Lourdes, e ainda de visitar pela primeira vez o Museu Guggenheim, de Bilbao, e o Valle de Los Caídos, com a sua Abadia Beneditina de Santa Cruz. A propósito de Lourdes e do culto mariano na Europa, já uma vez escrevi: “Fátima (1917) acolhe; Lourdes (1858) encanta; Czestochowa (a Virgem Negra, na Polónia – 1382) esmaga.”
Mas, no meio disto, nem tudo foi desagradável. Ao menos, tenho agora a oportunidade de enaltecer, de dizer bem, de alguma coisa que nos pertence: o Hospital Bernardino Lopes de Oliveira, de Alcobaça. Que foi, por sinal, onde minha mãe me deu à luz.