A urgência de agir

P. Tiago Roque
Pároco de Alcobaça e Vestiaria

A arte é um meio único e privilegiado de encontro com a verdade. Trago comigo esta realidade especialmente desde o estudo da Teologia e vou aprofundando tal certeza a cada dia que passa. O cinema é, por exemplo, uma ferramenta imprescindível para escutarmos a voz de Deus.
Na semana passada, tive a graça de visualizar o filme “Ainda estou aqui”, do realizador brasileiro Walter Salles. Retrata a história verídica de uma família nos anos 70, tempos de ditadura militar no Brasil. Eunice e Rubens Paiva têm uma família feliz. Fruto de um casamento de verdadeiro amor. Com cinco filhos a crescer à beira do mar do Rio de Janeiro. À medida que as cenas se vão sucedendo, temos conhecimento de que várias pessoas da sociedade brasileira simplesmente desapareciam, sem deixar qualquer rasto. Consequências da repressão. Este flagelo acaba por cair sobre a família Paiva. Todo aquele brilho que vemos no início do filme se suspende e dá lugar à escuridão da incerteza, do medo, da dúvida, da saudade. Eunice toma as rédias de sua casa, empenhando-se em que se mantenha nela a paz e a serenidade. A par disso, faz de tudo para perceber o que realmente sucedeu. Esta é sem dúvida uma história que deve hoje ser contada a todos.
A minha reação após ver o filme foi de estremecimento. Próprio de quem toma a consciência de que é necessário fazer alguma coisa. O que sucedeu um dia com a família Paiva acontece na atualidade com inúmeras outras. Temos a obrigação de fazer do nosso mundo um lugar onde se respire o espírito de família, onde se procure o bem comum e a promoção de todos. A aniquilação do outro, por ser incómodo, não é algo novo. No início da narrativa de Génesis, Caim dá a morte ao seu irmão Abel. Descarta-o. Problema, portanto, que já nos acompanha desde os primórdios. Sabemos também que aperceber-se do mal e permanecer imóvel ou silencioso, como quem diz “eu nada tenho a ver com isso” não é resposta cristã. Ainda que seja por medo. No filme, deparamo-nos com várias personagens assim. Afinal, a omissão ou o não fazer o bem maior são também mal e pecado.
Que a arte continue a falar-nos de nós e a promover reflexões. Precisamos dela para descobrir a verdade. A partir dela, convertamo-nos e procuremos ser construtores de um mundo bom e feliz.

P. Tiago Roque
Pároco de Alcobaça e Vestiaria

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