Passadas algumas semanas sobre as eleições autárquicas e apesar de se terem verificado alterações sintomáticas no quadro do processo sócio-político inerente, a velocidade dos acontecimentos no país e a voracidade da comunicação social já induziram o virar de página sobre o assunto. É assim. A vida é dinâmica, é mudança, é vertigem, sem que tenhamos tempo para retirar as lições que os nossos atos conjuntos evidenciam e que são os melhores indicadores de rumo para o governo da sociedade. E a primeira constatação é que, num período assolado por grandes dificuldades financeiras, os portugueses subjugados por um rigoroso plano de austeridade imposto pelos credores, dão claros sinais de cansaço e mesmo desilusão com a política. Não admira, assim, que o partido da área do governo tenha tido uma pesada derrota. Que o principal partido da oposição tenha disso tirado dividendos, embora com uma vitória incompleta (perdeu câmaras emblemáticas) e que a abstenção tenha atingido níveis nunca dantes verificados em eleições autárquicas. Por outro lado, grandes figuras políticas, candidatas por partidos, viram-se relegadas pelo eleitorado em favor de candidatos independentes. É um sinal claro de que povo não quer a eternização dos políticos na política, e que acredita que na sociedade existem competências alternativas tanto ou mais credíveis do que as propostas pelos partidos. Mas o facto verdadeiramente novo é que os votos brancos ou nulos mais do que duplicaram. Isto é, houve pessoas que se deslocaram às urnas com outra intenção que não a de eleger fosse quem fosse, mas apenas de deixar uma mensagem clara de que algo na governação autárquica não corresponde às suas expectativas. Em Alcobaça as coisas não foram diferentes. O PSD ganhou embora tenha perdido a maioria na Câmara, mas nem por isso o PS soube aproveitar do contexto nacional de crise para se afirmar eleitoralmente no concelho. Em minoria para governar, o PSD fez o que lhe competia: convidar os partidos da oposição para governar em conjunto, o que eles estranhamente declinaram. Esta indisponibilidade é preocupante. Os partidos têm que perceber, de uma vez por todas, que, ou querem servir o país, ou querem manter-se como organizações fechadas e clientelares. E que, se assim for, estão a caminhar irremediavelmente para um cenário de insignificância na cena política nacional.