Subi e desci inúmeras vezes por aquele elevador da Glória, tal como pelo elevador de Santa Justa. Eram os elevadores que eu utilizava, tanto nos meus primeiros tempos de estudante (morava na baixa pombalina) como na época dos primeiros empregos, na capital. Não admira, pois, que tivesse sentido de forma muito particular o acidente ocorrido no passado dia 3, na calçada da Glória. É que iniciei os meus estudos na Escola Comercial Veiga Beirão, mesmo junto ao quartel da GNR, no largo do Carmo. Subia com mais frequência pelo elevador de Santa Justa, mas nós, os alunos daquela escola, percorríamos toda a zona da baixa, Rossio e Restauradores, sendo mesmo conhecidos por Vigaristas da Baixa, em homenagem ao V de Veiga e B de Beirão. Por ali protagonizávamos as mais variadas tropelias, o que chegava a obrigar à intervenção da Polícia de Segurança Pública. Nestes elevadores – da Glória e de Santa Justa – chegámos a adquirir, cada um de nós, meia dúzia de bilhetes e, ao entrar no elevador, para subir, entregávamos um bilhete ao funcionário e, quando chegávamos a destino, lá em cima, ninguém saía e puxávamos por outro bilhete para fazer a viagem de regresso. Uma vez lá em baixo, ao entregar mais um bilhete para voltar a subir, e já com uma enorme fila a aguardar a sua vez, o funcionário sai do seu posto e vai em busca de… quem? Outro funcionário? Polícia? Na dúvida, pernas para que vos quero… era fugir, fugir, com aquela multidão, na fila, a rir às gargalhadas. Atravessámos a Avenida da Liberdade e, do outro lado, mesmo em frente do elevador da Glória, fomos beber água num repuxo do jardim. Fizemos fila e, quando um de nós bebia, voltava para o fundo da fila. Desta forma, ninguém mais bebia água naquele repuxo. Recordando estes incidentes da juventude, foi com mágoa que agora assisti a esta tragédia. Lamento que se procure tirar dividendos políticos, atribuindo ou sacudindo culpas – que as haverá, certamente, como o futuro próximo há de confirmar.