A saudade das nossas origens e o desejo do regresso estará sempre presente no imaginário dos portugueses. Sentimentos estes que se coadunam perfeitamente com a caminhada que a Quaresma propõe a todos os cristãos.
Por estes dias, passei os olhos pela canção vencedora do Festival da Canção deste ano. Trata-se de “Deslocado”, da banda NAPA, a qual tem as suas raízes na ilha da Madeira. A letra revela-se muito curiosa: “Por mais que possa parecer / Eu nunca vou pertencer / Àquela cidade / O mar de gente / O sol diferente / O monte de betão / Não me provoca nada / Não me convoca casa.” Ao investigar um pouco, apercebi-me de que a música despertou grande recetividade entre os jovens, os quais são chamados a deixar as suas proveniências para darem continuidade aos seus estudos e trabalhos. Tão habitual continua a ser deixar o nosso país, com o intuito de encontrar um melhor futuro. Na verdade, a nossa casa é sempre a nossa casa.
Em tempo quaresmal, esta saudade do nosso lugar, do nosso espaço, torna-se desejo firme de um regresso redentor. Lembro-me da parábola do filho pródigo, tão própria e elucidativa desta época do ano cristão. Neste caso, é a saudade da casa do Pai e o querer regressar, após uma “experiência de pocilga”, que o fará mudar o seu rumo. Volta para casa do Pai, que é a única morada que verdadeiramente o enche e lhe faz sentir a pujança da vida. Na verdade, é necessário parar. Refletir acerca do ponto em que me encontro. Descodificar o que é que me anda a tirar a paz. E regressar aos braços de Deus. O lugar onde realmente pertencemos.
Que nesta Quaresma, a saudade de uma presença plena de Deus em nós, nos mova. Com uma prudente revisão de vida, haveremos de entender em que terrenos pantanosos é que temos andado. Que o fruto desta reflexão seja principalmente o regresso. Assim, esta Páscoa será diferente. Será única.