As vilas e o jornalismo regionalista

Sílvia Dionísio Pereira

Revistas, Boletins e Folhas Noticiosas

Desengane-se quem considere que no passado apenas existiram jornais e redações na vila de Alcobaça. Houve algumas aldeias nos coutos que procuraram acompanhar os novos hábitos quotidianos dessas épocas. Embora a maioria não conseguisse prosperar durante um longo período. Por estes efeitos, a imprensa alcobacense foi a que mais resistiu no tempo com maior número de séries publicadas. A existência do público-alvo consumidor era o que permitia os lucros e o sustentar das atividades jornalísticas. Esse era dos principais fatores conducentes para o encerrar de pequenas publicações. Em 1868 existiu um semanário lisboeta intitulado Aljubarrota (out.-dez. 1868), impresso na Typografia Franco-Portugueza. Foi uma revista de carácter político anti-ibérico, republicano e conservador. Difundiu artigos sobre a biografia de Nuno Álvares Pereira e o sentimento patriota pela famosa batalha. Contava com a redação de importantes figuras como Pinheiro Chagas e J. M. D’Andrade Ferreira.
Em 1890 nasce O Domingo: echo da aldeia (Març.1890-Jun.1891), impresso na Typ. de José Luiz da Cunha, em Pombal. Dedicado aos interesses de S. Martinho do Porto, e que tinha como principais redatores ilustres locais como Victorino Froes e João Palha Pinto. Foi um periódico semanal conservador que enaltecia as festas taurinas da vila, se debatia com os melhoramentos municipais da praia para melhor acolher os visitantes, e publicava tímidos artigos de opinião política. Por exemplo, a 8 de junho de 1890 é comentado o seguinte: «Os poderes governativos não podem de per si, sem o apoio dos habitantes da localidade, melhorá-la; como esses habitantes não podem, sem o auxílio indispensável d’aquelles, promover o movimento civilisador do progresso local».
Entre 1909 a 1911 existiu a revista mensal A Mulher e a Criança redigida e de propriedade de três mulheres feministas e republicanas, entre elas a leiriense Maria Benedita Mouzinho de Albuquerque. No intuito de fazer instruir e defender o papel e direitos femininos na democracia e educação dos mais pequenos, possivelmente também esta revista terá sido lida nestas terras. Em dezembro de 1913 a Folha Agricola: boletim do syndicato agricola foi publicada e distribuída gratuitamente pela Typ. de A.Coelho da Silva & Guido. Atendendo ao atraso nacional no progresso de novos métodos agrícolas, destinava-se à propaganda de técnicas agrárias e alertava a importância para a limpeza e seleção das sementes dos cereais. Outro caso foi em 1919, sob a direção de Armando d’Abranches Bizarro, publicou-se um número único da Aljubarrota: revista quinzenal, impressa em Lisboa na Tip. Espera. Apresentou-se como humilde redação interessada em assuntos culturais e de memória daquelas gentes, porque considerava que se vivia «n’um paiz onde pouco se lê e onde a Literatura e a Arte são (…) desprezadas como inúteis» (1.ª quinzena de dezembro 1919).

Sílvia Dionísio Pereira

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