Coisas de leigos

P. Tiago Roque
Pároco de Alcobaça e Vestiaria

Na semana do Jubileu Paroquial de Alcobaça, um dos momentos mais marcantes foi, sem dúvida, o da conferência de D. Manuel Clemente. Em que consiste um Jubileu? O que dizer acerca dos vários jubileus da História? Tocou-me especialmente a compreensão de que o Jubileu na Igreja Católica teve a sua origem numa intuição, não do Papa, não de bispos ou padres, mas de leigos. O conceito de ano jubilar já existia na tradição do povo de Israel. A expressão “Jubileu” provém do hebraico yobel, que designa o chifre de carneiro, o qual, ao ser tocado, era anunciador do início deste tempo de graça de Deus. Contou-nos D. Manuel que no ano de 1300, correu entre os cristãos pela Europa fora, a ideia de que, por ser um ano de “número redondo”, quem peregrinasse aos túmulos dos Apóstolos Pedro e Paulo adquiriria indulgência. No fundo, os fiéis, pela participação no Sacramento da Reconciliação, são perdoados de todas as suas culpas e pecados. Mas também é certo que as faltas que cometemos são golpes fortes na nossa história de vida e, como nos dizia o Patriarca emérito, permanecem em nós “algumas poeiras” de que desejamos ser limpos. É neste sentido que entram as indulgências, com um efeito curativo e reparador. A peregrinação, a passagem pela Porta Santa, a oração pelo Papa e pela Igreja e o desejo firme de cortar com o pecado são assim um caminho para a indulgência em nós. Quando o Papa Bonifácio VIII se deparou com um número imenso de cristãos a acorrer a Roma naquele ano de 1300, procurou entender qual a intenção que os trazia ali e acabou por instituir o ano jubilar na vida da Igreja. Especialmente marcante terá sido o Jubileu de 1350, em que o mundo enfrentava o flagelo da peste negra. Uma vez que a epidemia levava uma parte substancial da população à morte, importava estar-se preparado espiritualmente para partir desta para melhor. Ou o Jubileu de 1950, ano em que foi proclamado o dogma da Assunção da Virgem Santa Maria, presente desde o início da fé cristã, sobretudo na consciência e na piedade populares. Só faltava um pronunciamento do magistério. Ou o Jubileu do ano 2000, com o Papa João Paulo II e do qual guardamos gratas memórias. A história jubilar fica ainda marcada pelo papel essencial de alguns leigos. E concretamente de mulheres, como Brígida da Suécia, Cristina da Suécia ou ainda Maria Casimira da Polónia. Não há dúvida de que o Espírito Santo sopra onde quer. Vai suscitando em todos os filhos de Deus algumas intuições de relevo. Importa assim que os leigos, pais e mães de família, trabalhadores na sociedade de hoje, tomem parte ativa na Igreja e a construam. Todos somos necessários e juntos enriquecemo-nos.

P. Tiago Roque
Pároco de Alcobaça e Vestiaria

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