De Mestre Cervejeiro a Estatístico Incógnito

Nelson José Faustino
Professor da Un. de Coimbra

A cervejeira Guinness é mundialmente conhecida pelo seu logotipo em forma de Harpa irlandesa, e por produzir cervejas com a mesma composição desde a sua fundação em 1759: malte irlandês, água [de Dublin], lúpulo e levedura.
No entanto, a grande maioria desconhece que esta empresa contribuiu acidentalmente para o desenvolvimento da teoria estatística no início do século XX.

No ano de 1889 a Guinness contratou o engenheiro William Gosset (1876-1937), que possuía formação em Matemática e Química. A sua contratação foi ao encontro de uma tendência da indústria da época, que consistia em recrutar jovens licenciados com viés científico.

De 1899 a 1906 Gosset foi um mero cervejeiro aprendiz. Um problema que ele se deparou em 1904, após a análise estatística de dados experimentais, foi o seguinte: para cada tipo de cevada tinha apenas uma amostra com quatro observações, em virtude da Guinness ter apenas quatro quintas.

À época Gosset notou que as técnicas de estimação envolvendo grandes amostras não serviam para o seu propósito. Por esse motivo, precisou de desenvolver a sua própria teoria estatística. Após ter passado o ano letivo de 1906/1907 em Londres a estudar estatística, sob a supervisão de Karl Pearson (1857-1936), publicou em 1908 na revista Biometrika, o artigo intitulado “The Probable Error of a Mean”, com o pseudónimo de Student.

Neste artigo, constatou que o desvio padrão da amostra não é um bom estimador para a variância da população, para o caso de pequenas amostras. Para contornar esse facto, introduziu uma distribuição estatística, hoje conhecida por t de Student.

Este artigo, de importância fulcral para o desenvolvimento da teoria estatística contemporânea — assente em Testes de Hipóteses e Análise de Variância — foi publicado com um nome incógnito, de modo a evitar a divulgação dos métodos estatísticos adotados pela Guinness no controlo de qualidade.

Nelson José Faustino
Professor da Un. de Coimbra

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