Conheci a Missão País em 2022. Não sei se primeiro na EB1 de Évora de Alcobaça, ou antes, pelo que me contou a simpática família de Tomás e Pedro Rodrigues, chefes nacionais da Missão em 2023 e 2024, respectivamente. Certo, é que percebi, desde logo, que é uma Missão muito bonita e impactante. Neste projeto católico, jovens universitários são convidados a missionar em lares, creches, escolas, ou a ir de porta em porta, disponibilizando ajuda, palavras, sorrisos e abraços. Durante a semana de Missão estão presentes nas missas diárias e cantam o hino daquele ano, formando filas de abraços com quem está presente. É um momento emocionante. Há também um dia em que são acolhidos pelas famílias locais, que os levam a jantar em suas casas. Além das variadas actividades, a semana encerra com uma peça de teatro. Na última missa despedem-se cantando o hino efusivamente, respeitando o 6º Mandamento do Missionário: “Cantarás o hino, com todas as tuas forças.”
Este ano, a Missão voltou ao meu caminho. Pude vê-los e sentir-lhes a força, a emoção, a beleza, o humor, a bondade e o coração, em duas semanas distintas de fevereiro: de 1 a 9, em que jovens da Universidade Católica – Direito, vieram para o Valado dos Frades com o Padre Miguel Vasconcelos e foram recebidos pelo Padre Tomás Castel-Branco; e de 9 a 16, em que jovens do Instituto Superior Técnico vieram para Alcobaça com o Padre Pedro Brás, sendo recebidos pelo Padre Tiago Ferreira Roque. Assim que ouvi o hino passei a cantá-lo com todas as minhas forças. Chegou a um ponto em que eu e a minha filha Flor não adormecíamos sem o ouvir. Em Alcobaça, o Centro de Bem-Estar Infantil – Irmãs de S. José de Cluny, que a Flor frequenta, foi uma das instituições que acolheu a Missão País. Com 5 anos, mostrou-se de tal modo entusiasmada, que decidi ir à missa. Nela, o Padre Pedro pediu, por duas vezes, um minuto de silêncio. E estar em silêncio no Mosteiro de Alcobaça é poderosíssimo. Foi como diz o lema deste ano: “Sentir uma paz que vem do interior, e vencer a ansiedade e o medo que nos assaltam o coração.” No final, acabei por ser uma das famílias a acolher jovens para jantarem connosco e não adormeci sem ouvir o hino.
Acredito que, se de cada vez que nos sentirmos tristes, descrentes, levados pela correria dos dias, ouvirmos o hino, ou fizermos um minuto de silêncio nas nossas vidas agitadas, o nosso coração saberá acolher as nossas dores e transformá-las em dons. Acredito que houve uma grande alegria em cada lar e instituição que acolheu jovens, em cada palavra partilhada, em cada sorriso, em cada ajuda. Por isso, e por tudo o que nos proporcionaram, escrevi um texto de gratidão para a missa de despedida, desafiando a cantarmos o hino, não em filas de abraços, mas formando um grande círculo, olhando nos olhos uns dos outros, para, como disse o Padre Pedro “podermos ver de coração aberto”, sem ter medo de cair. Assim foi. O hino cantado com todas as forças das gentes de Alcobaça, abraçadas aos jovens da Missão País num círculo enorme. No final, recebi flores usadas na peça de teatro e só posso desejar que esta Missão continue a impactar pessoas. Que possamos adormecer, como eu e a Flor, de coração cheio e hino no ouvido, na certeza de continuar, como estes jovens: a missionar. Eu não tenho religião. Tenho religiões. Ou como no poema “O Guardador de rebanhos”, de Alberto Caeiro, “Eu não tenho filosofia: tenho sentido…” e o que tenho sentido é o que cada religião faz pelo bem comum, pelos outros; o que cada pessoa pode fazer no dia-a-dia pelos vizinhos, conhecidos, colegas, amigos, familiares. Como podemos, nas nossas vidas agitadas, impactar quem nos rodeia, sejamos nós de que religião formos, ou não tendo uma religião, mas tantas.
Deus vem falar comigo às quatro ou às seis da manhã, e a escrita surge à frente dos meus olhos fechados no escuro. Eu só tenho de a ouvir, reter, e se conseguir quebrar a barreira do so…no: escrever. Assim foi que Deus me trouxe a Missão País. Gratidão.