Paula Castelhano, natural de Luanda, Angola, leciona no Externato Cooperativo da Benedita (ECB) há 22 anos. Atualmente a concluir o Mestrado em Didática das Ciências, fala dos desafios que o ensino das ciências hoje enfrenta.

Nos dias de hoje, o que é para si mais importante no ensino das Ciências?
É crucial reforçar o ensino das ciências através de esforços para: melhorar e apoiar a aplicação do currículo; proporcionar aos professores oportunidades de formação contínua centrada nos trabalhos práticos e na aprendizagem baseada na investigação e assistir os alunos nas suas atividades científicas na escola. Construir as ligações entre as escolas e outras partes interessadas para garantir que os professores e escolas recebem o apoio necessário para fazer isso. As novas formas de ensino incluindo abordagens mais ativas baseadas no IBSE (Inquiry based Science Education), atividades práticas e experimentais e as inovadoras ferramentas das TIC, baseadas na pesquisa, devem ser adotadas num suporte mais amplo, devendo os professores ser encorajados e apoiados no nosso sistema escolar. É essencial haver um afastamento da avaliação “baseada em factos” para a “baseada em competências”.

O ECB tem dado apoio para o desenvolvimento dos seus projetos científicos?
Sim, o atual diretor pedagógico, Nuno Rosa, já conhece o meu trabalho há vinte anos no ECB tendo facultado o apoio fundamental para a prossecução das atividades. De referir que o anterior diretor, Alfredo Lopes, sempre esteve atento e apoiou as minhas atividades científicas e sociais com os alunos. Sem este apoio os alunos não usufruiriam das experiências muitas das vezes marcantes na sua história de vida.

Costuma estar envolvida em atividades científicas. Este envolvimento é obrigatório por pertencer a uma escola particular e cooperativa?
De jeito nenhum. Somos uma escola similar a uma escola pública, com contrato de associação e quem nos paga é o Ministério da Educação e Ciência, com clubes, apoios direcionados aos alunos, desporto escolar, projetos de solidariedade, entre outros. O ECB bebe dos mesmos objetivos da escola pública como a qualidade das aprendizagens, a inclusão, o rigor, a disciplina, a cultura do respeito por si próprio, pelo outro, pelo ambiente, a responsabilidade, a reflexão, mas também a criatividade e a curiosidade em termos de aprendizagem. É uma escola em que o lema não é “direito a uma educação” mas sim “direito a uma educação para todos, de qualidade”, tal como prevê a Constituição da República Portuguesa. Não sou contra a existência de escolas particulares sem ou com contrato de associação, mas sim contra a forma como são geridas. Há escolas públicas realmente “profissionais” em todas as valências e também há escolas privadas caóticas.

Como vê a educação do futuro?
As alterações da sociedade do conhecimento e as reformas sucessivas na educação colocam à escola, e particularmente aos professores, desafios que intimam respostas rápidas e complexas. Durante as últimas décadas, segundo alguns estudos que analisei, estas transformações desafiaram a autonomia profissional dos professores e levantaram a questão sobre o que significa ser um profissional sob um escrutínio público cada vez maior despertando a preocupação, por parte da Comunidade Europeia, de estimular os contextos educativos para a mudança. Assim, a educação, no futuro, exigirá um trabalho docente altamente qualificado, adquirido em moldes diferentes dos conseguidos até hoje centrados, essencialmente, no desenvolvimento profissional docente com ênfase na colaboração, cooperação entre os professores e outros responsáveis legais da educação e na reflexão sobre a prática docente. Neste sentido, é necessário incentivar políticas de mudança que promovam ambientes educativos saudáveis, isto é, que vejam a escola não só como uma fonte de informação mas sobretudo como um local de motivação e aprendizagem.