O uso dos telemóveis na escola

Apostar no digital ou voltar às origens e aproveitar o recreio para «fazer recreio»? O início do ano letivo ficou marcado pela recomendação do Governo para a proibição do uso de telemóveis nas escolas por crianças do 1.º e 2.º ciclos e ainda para a adoção de medidas que desincentivem a sua utilização no 3.º ciclo. Este é um dos temas que pode acompanhar nesta edição d’O ALCOA. Há inúmeras opiniões sobre o assunto, mas registo uma, a do psicólogo Eduardo Sá, que refere que o “uso massivo de écrans por parte das crianças faz-lhes mal”, contribuindo para “que fiquem menos atentas, mais impulsivas, menos sociáveis, mais imediatistas, menos fluentes e menos inteligentes”. A verdade é que, mesmo antes deles chegarem ao 1.º ciclo, somos nós, pais, que muitas vezes os incentivamos a usar essas tecnologias, não por qualquer questão relacionada com aprendizagem, mas porque nos dá jeito. Dá jeito que estejam sossegados em casa, para realizarmos as nossas tarefas, é conveniente que não façam barulho num jantar no restaurante, que não façam birra quando vamos às compras, ou noutra situação em que queremos que não nos «desaprovem» enquanto pais, ou educadores. O telemóvel está à mão e serve como «brinquedo» ou «analgésico» para acalmar a situação, mas será que é o melhor para elas? As crianças devem poder ser crianças, levar a imaginação ao limite e expressar-se. Tudo isto dentro de quatro paredes, mas também na rua, a jogar à bola, a andar de bicicletas, a «colecionar» nódoas negras, com os colegas da escola, com a família, com os vizinhos… Há tanto para fazer sem tecnologias. O uso e a aprendizagem recorrendo ao uso das novas tecnologias é inevitável. São ferramentas dos novos tempos e fazem parte do dia a dia. Mas no crescimento de uma criança deveríamos olhar menos para aquilo que gostaríamos que os nossos filhos fossem e mais para aquilo que eles realmente são. E eles são apenas crianças, temos de os deixar sê-lo.