Ventos com futuro para moinhos
Quem se desloca a Alcobaça pela estrada que vem de Turquel, com passagem pelo Ardido, não pode ficar indiferente ao som característico do moinho da família Rodrigues, que, com as velas içadas ao vento, roda sem cessar num incessante frenesim. Aquele moinho de vento, com mais de 200 anos, que tem atravessado gerações, merece destaque nesta edição d’O ALCOA.
Contamos a história destes familiares que com ADN de moleiros continuam a manter vivo um ofício, um património único e a fazer farinha de modo tradicional. Garantia deixada por Sandra Rodrigues e Nelson Rodrigues, filhos de Raúl Rodrigues, o conhecido moleiro que nos deixou em dezembro de 2022 e que sempre dizia que “antes queria ele parar que o seu moinho”, tal não era a paixão que nutria por aquelas «velas ao vento».
Neste desejo, respeitado pelos seus filhos, é feita a transmissão também aos netos do moleiro Raúl. Familiares que, apesar de manterem viva esta paixão, temem pela perda deste património, como a possível construção em seu redor, que, a acontecer, fecha o túnel de vento, essencial para o moinho fazer o seu trabalho. Maior proteção, como a classificação destes «tesouros» a Património Nacional e a Património da UNESCO, é tudo o que pedem.
Este é um património ímpar, não só pelas histórias e memórias que agrega, mas porque ainda continua a produzir farinha, de modo tradicional, no tempo preciso e nas quantidades necessárias, em mós de pedra, com qualidade e sem aditivos. O que gera é feito com muito amor e paixão, pelo legado, pela estima pelo moinho e pela arte de moleiro.
Um património que importa preservar e que não se pode deixar ir «ao sabor do vento».