No tempo de D. Maria I enquanto engenheiros militares planeavam a nova estrada Lisboa-Porto, a corte mostrava-se nas missas, procissões, idas ao teatro e ópera. Nos salões da corte dançava-se, tocavam-se instrumentos e cantava-se. O mesmo passou-se certamente fora do paço. Poetas e outros estudiosos reuniam-se em salões literários e saraus. No gélido convento de São Félix, em Chelas, viveu com a sua mãe e a sua irmã Leonor de Almeida Portugal, filha do segundo Marquês de Alorna, preso na Junqueira, por serem da família dos Távoras. Leonor cedo se distinguiu nos «outeiros» reuniões frente às grades, onde eruditos debatiam Voltaire, Diderot, D’Alembert, Rousseau, Condorcet e outros. Leonor brilhava com os seus poemas e ideias. Recebia muitos livros à revelia de Pina Manique, que lia com sede de aprender. Cedo deu conta da importância da razão de o fazer. D. Maria I libertou os acusados do atentado a seu pai e a sua família volta à liberdade. Saiu com 27 anos. Ela e a rainha são tão amigas, que esta oferece-se para sua madrinha de casamento com o conde de Oeynhausen, porque o seu pai não aceitava a escolha da filha. Com o marido, Leonor viaja até à Áustria passando por Paris. Na cidade das luzes conhece outros filósofos e frequenta os salões de madame Condorcet e conhece madame de Stael. Não se queixa de viagens longas por itinerários de outros viajantes e até peregrinos de outros tempos. Ia sempre rodeada de livros e cadernos para escrever. Em Viena de Áustria conhece escritores como Goethe e Schiller e a sua biblioteca. Quando regressou a Portugal intrigas na corte afastam-na do paço, mas continuou a frequentar e a apoiar os saraus poéticos de Lisboa, as «arcádias» onde brilhavam António Dinis da Cruz e Silva (1731-1799), Pedro António Correia Garção (1724-1772), Nicolau Tolentino de Almeida (1740-1811), Filinto Elísio (1734-1819) e Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765-1805) por quem pediu a todos e organizou uma subscrição para angariar fundos, a fim de lhe publicarem a sua obra poética. Bocage viveu muito pobre, como é sabido, e comparou o seu destino ao de Camões, que pobre também morreu.