Humor e morte

José Maria André
Professor do I. S. Técnico

No dia de Natal, a Porta Santa foi aberta na basílica de S. Pedro, em Roma, dando início a um Jubileu que durará até ao final de 2025. Será o grande tema do ano! O início de uma nova etapa da Igreja e do mundo. No próximo 14 de Janeiro é lançado um livro do Papa em diálogo com Carlo Musso, que traz algumas novidades interessantes.
O «New York Times» pré-publicou uma página, intitulando-a «There is Faith in Humor» (há fé no humor). Nesse texto, o Papa contrapõe a atitude do funcionário com a do pastor, a soberba amargurada e triste com a alegria. No fundo, diz ele, para os padres, o sentido de humor manifesta a felicidade de «estar casados com a Igreja», em contraste com o viver como «solteirões». Isso aplica-se também aos Papas e Francisco dá exemplos.
Um dia, João XXIII disse mais ou menos isto, num discurso: «muitas vezes, à noite, penso numa série de problemas graves. Então, tomo a decisão, valente e determinada, de ir falar com o Papa na manhã seguinte. Nessa altura, desperto a transpirar… e lembro-me de que o Papa sou eu».
João Paulo II também tinha saídas divertidas. Quando ainda era cardeal, um outro cardeal, mais velho e bastante severo, repreendeu-o por esquiar, escalar montanhas e praticar ciclismo e natação. O futuro Papa respondeu: «Mas sabe que na Polónia, pelo menos 50% dos cardeais praticam esses desportos?». (Nessa época, só havia dois cardeais na Polónia).
A propósito das anedotas acerca dos jesuítas, Francisco fala da capacidade de se rir de si próprio. Conta que um jesuíta vaidoso, com uma doença grave, perguntou a Deus se estava a ponto de morrer, mas Deus disse-lhe que viveria pelo menos mais 40 anos. Então, resolveu fazer transplantes de cabelo e várias operações de cirurgia estética, para ficar como novo. Logo à saída do hospital foi atropelado e morreu. Protestou: «Senhor, dissestes-me que ia viver mais 40 anos!». «Ah, desculpa! —respondeu Deus— não te reconheci».
Alguém contou ao actual Papa uma anedota situada na sua viagem aos Estados Unidos. No aeroporto de New York tinha um automóvel espampanante à espera e primeiro sentiu-se envergonhado, mas depois pensou que há muitos anos que não tinha o gosto de conduzir e que nunca tinha guiado um carro daquela categoria. Era uma oportunidade única! O motorista não queria passar-lhe o volante, em nome do regulamento, mas Francisco teimou e conseguiu. O Papa ao comando, com o motorista ao lado, lança-se em excesso de velocidade pela auto-estrada fora, até que se ouve uma sirene e a polícia os manda parar. O polícia fica lívido quando reconhece o condutor. «Desculpe um momento», e telefona para o quartel-general: «Chefe, tenho um problema, parei um automóvel em excesso de velocidade que leva um sujeito muito importante». «Assim tão importante? É o Presidente da Câmara?». «Não, não, chefe… acima disso». «O Governador do Estado?». «Não, não, mais…». «O Presidente da República?». «Acho que está acima». «Como pode ser mais importante que o Presidente da República?!». «Chefe, não sei dizer quem é, o que vejo é que o motorista dele é o Papa!». O Evangelho diz-nos para nos fazermos como crianças e Francisco diz que são elas e os anciãos que mais o emocionam nas audiências. Os anciãos porque abençoam a vida, porque põem de lado todo o ressentimento. Têm o dom do riso e das lágrimas, como as crianças. Em geral, quando levanta uma criança nos braços, ela sorri; mas alguma confunde-o talvez com um médico de bata branca, que vai dar uma injecção, e chora. São exemplos, diz o Papa, de espontaneidade, de humanidade, que nos recordam que quem renuncia à sua própria humanidade renuncia a tudo. Quando é difícil chorar a sério, ou rir com gosto, as coisas vão mal. Os adultos anestesiados não fazem nada de bom para si, nem para a sociedade, nem para a Igreja. O livro tem muito mais que a página publicada pelo New York Times. Por exemplo, conta que houve duas tentativas de assassinar o Papa durante a viagem ao Iraque, em 2021, que o plano foi descoberto a tempo e os assassinos morreram em tiroteio com a polícia. Um condensado de experiência de vida, de tristeza e humor. E de esperança, que é o tema do Jubileu. Que bem precisamos de esperança, para ver além do fragor das actuais guerras.

José Maria André
Professor do I. S. Técnico

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