Os amigos ficaram preocupados e quiseram saber se o Papa se tinha magoado porque, aparentemente, a queda foi aparatosa. O próprio Papa contou esta história em entrevista à jornalista Elise Ann Allen, do «site» norte-americano Crux (18 de Setembro). Ao princípio, Leão XIV não entendeu a preocupação dos amigos, depois, eles explicaram-lhe que se referiam à queda. À queda?! Felizmente, não tinha havido queda, mas havia um vídeo tão impressionante que os amigos tinham pensado que era genuíno. Esta capacidade dos programas de inteligência artificial para fabricar imagens convincentes vai revolucionar a indústria cinematográfica e fazer surgir muitos realizadores novos. Até agora, para filmar um herói a saltar de um prédio para o outro, ou filmar um helicóptero a arder no ar era preciso gastar uma fortuna enorme em truques de cinema. Agora, qualquer cidadão pode produzir no seu computador cenas ainda mais incríveis. Resta saber se as paisagens falsas conseguem ser tão belas como as dos filmes caros, ou se as músicas artificiais têm a qualidade das bandas sonoras a sério. Se o computador fabricar um Papa a saltar para um avião em movimento, ou a escalar o exterior da cúpula de S. Pedro, a maioria de nós suspeita que é truque. O problema está naquelas cenas plausíveis, talvez um pouco surpreendentes, mas não impossíveis. Vários amigos me mostraram vídeos de discursos de Leão XIV totalmente inventados. Não pareciam feitos com má intenção, eram respeitosos, parecidos com as transmissões da praça de S. Pedro, só lhes faltava serem verdadeiros. Anos atrás, as pessoas acreditavam confiadamente naquilo que vinha publicado num livro ou num jornal. Quando duvidávamos, levantavam o jornal na nossa frente e apontavam para a notícia. Está aqui! Claramente! Preto no branco!
Entretanto, quando nós próprios assistimos ao facto, ou conhecemos bem o assunto, percebemos que há muitas notícias falsas. Umas vezes por incompetência, outras por desleixo, outras para transmitir propositadamente uma certa mensagem. Alguns grupos económicos, e o próprio Estado, que pagam de forma mais ou menos encoberta o prejuízo dos grandes jornais, servem-se disso como instrumento para os controlar. A crise dos meios de comunicação social agravou as dependências antigas. Há anos, eu lia habitualmente um grande jornal português, na altura o maior, que atacava sarcasticamente o Governo, apesar de, como todos os grandes órgãos de informação da época, ser propriedade do Estado. Um dia, o Dr. Almeida Santos, Ministro encarregado da comunicação social, deu uma entrevista em que afirmou que não podia garantir a manutenção dos postos de trabalho porque o Estado possuía demasiados jornais e o prejuízo global era incomportável. No dia seguinte, eu nem queria acreditar na mudança! Recordo uma notícia: «Sua Excelência o Senhor Ministro da Agricultura desloca-se hoje numa importante viagem a Bruxelas, onde irá defender denodadamente os interesses da agricultura portuguesa», etc. Na véspera, o texto poderia ter sido «O Cebolas vai a Bruxelas receber ordens, para acabar de vez com a nossa agricultura». A mudança drástica do inteiro jornal, em apenas 24 horas, convenceu-me da enorme fragilidade da grande comunicação social. Quem paga, manda. Nunca é demais lembrar que nada substitui as fontes directas. Por exemplo, os discursos do Papa lêem-se no «site» do Vaticano, não em agências de informação, mesmo que se chamem romanas, ou vaticanas, ou católicas. E, quando lemos artigos de opinião, a primeira coisa a ver é quem os escreve e que jornal os publica. Porque —não tenhamos dúvidas— um vídeo muito bem feito pode mostrar-nos o Papa a tropeçar pelas escadas abaixo sem nenhum indício de que a cena foi fabricada algures num pequeno computador portátil, com um programa gratuito de inteligência artificial. É bom para a indústria cinematográfica, mas obriga-nos a um cuidado redobrado.