Mosteiro. A posição dos partidos políticos sobre alegações contra a Igreja

Sendo que o Bloco de Esquerda levou ao Parlamento acusações contra a Igreja de Alcobaça, O ALCOA quis ouvir os partidos com assento na Assembleia Municipal de Alcobaça. PS, CDS/PP e CDU aceitaram o nosso convite. Ao contrário de Paulo Inácio, presidente da câmara de Alcobaça, que não respondeu ao nosso pedido de entrevista, nem deu a conhecer o que pensa sobre a questão.

Dada a hostilização da Igreja no Mosteiro de Alcobaça e as alegações que o Bloco de Esquerda levou ao Parlamento contra a Igreja, veiculando um comunicado do BE local que publicámos na íntegra, O ALCOA ouviu representantes dos partidos com assento na Assembleia Municipal: Rui Alexandre, presidente da Comissão Concelhia do PS; o vereador eleito pelo CDS/PP na câmara, Carlos Bonifácio; e da CDU, Rogério Raimundo e Clementina Henriques, que optaram por entrevista conjunta. O mesmo convite foi endereçado ao  presidente da Câmara, Paulo Inácio, do PSD, mas até à data de fecho de edição não obtivemos resposta.

O que diz a Lei

Estipula a atual Concordata (art.º 22.º), tratado internacional celebrado entre o Estado Português e a Santa Sé em 2004, que os imóveis como o Mosteiro de Alcobaça: “continuam com afectação permanente ao serviço da Igreja. Ao Estado cabe a sua conservação, reparação e restauro de harmonia com plano estabelecido de acordo com a autoridade eclesiástica, para evitar perturbações no serviço religioso; à Igreja incumbe a sua guarda e regime interno”.
O ICOMOS, na sua “Carta Internacional do Turismo Cultural” (1999), da qual Portugal é signatário, exige que: “Devem ser respeitados os direitos e os interesses da comunidade residente, ao nível regional e local, e dos proprietários e povos indígenas relevantes que possam exercer direitos ou responsabilidades tradicionais sobre a sua própria terra e sobre os seus sítios significativos. Eles devem ser envolvidos no estabelecimento de objectivos, estratégiapolíticas e protocolos para a identificação, conservação, gestão, apresentação e interpretação dos seus próprios recursos culturais”.

Clementina Henriques e Rogério Raimundo. Concelhia da CDU 

ROGERIO RAIMUNDO CDU

 

A atual direção do Mosteiro de Alcobaça promove adequadamente a dinamização cultural e turística do monumento?
Tem havido alguma evolução que consideramos positiva, como recentemente a cedência do espaço para a Semana do Acordeão, ou um colóquio aberto à população sobre os manuscritos. Não obstante essa evolução, há ainda alguma carência, na dinamização da cidade e do município de Alcobaça. Há que apostar mais na divulgação na promoção e no consumo da cultura popular, que está na nossa génese.

Como vê as atitudes de hostilização da Igreja no Mosteiro de Alcobaça por parte da diretora Ana Pagará e da tutela?
Não conhecemos os factos para além dos que são públicos e, quanto a isso, o que entendemos é que deve haver um melhor diálogo e entendimento porque é património mundial, é nacional, e é local e tem uma parte reservada à paróquia. Portanto, um melhor entendimento entre as partes respeitando as duas esferas de responsabilidade é essencial.

E o conteúdo das gravíssimas alegações do BE contra a Igreja de Alcobaça?
Achamos mal que Alcobaça seja falada dessa forma negativa, quer na comunicação social, quer na Assembleia da República. As afirmações do Bloco de Esquerda são da sua responsabilidade. Temos a nossa ação política, numa postura positiva, identificando o que podem ser atitudes de risco e tentando conjuntamente com os atores intervenientes promover soluções.

Que balanço faz do executivo de Paulo Inácio na Câmara de Alcobaça a nível cultural e de defesa do património?
Vimos com muita preocupação o que gostaríamos que fosse desenvolvimento sustentado, que passaria por uma aposta no turismo integrada. O que nos levou já a propor, na Assembleia Municipal, a criação de um verdadeiro e sustentado cluster do turismo, que envolva as diversas atividades do concelho, desde as inerentes à economia produtiva, às dinamizadas pela economia social. Relativamente às questões estruturantes para o desenvolvimento do concelho, a atuação relativamente a estas está muito aquém do que deveria ser feito.

 

Rui Alexandre. Presidente da concelhia do PS

Rui Alexandre (2)

A atual direção do Mosteiro de Alcobaça promove adequadamente a dinamização cultural e turística do monumento?
É urgente que se crie um projeto cultural coerente e estruturado para o concelho. Neste contexto, consideramos que o Mosteiro de Alcobaça tem de ser efetivamente um motor de progresso e de desenvolvimento à escala nacional, regional e local. Nos últimos quatro anos, para além da realização de visitas guiadas e de alguns eventos, a programação cultural do Mosteiro foi redutora. Resume-se à apresentação regular de encontros de vertente científica pouco mobilizadores de audiência.

Como vê as atitudes de hostilização da Igreja no Mosteiro de Alcobaça por parte da diretora Ana Pagará e da tutela?
O Partido Socialista tem defendido sempre os interesses de Alcobaça, bem como entendemos ser do interesse económico e turístico para a Região Centro, que a porta da Igreja continue aberta a todas as pessoas, sem restrições. Daí termos apresentado a moção na Comunidade Intermunicipal do Oeste. E é isso que continuamos a defender. A posição do PS na abstenção da votação na moção apresentada pelo CDS, na última Assembleia Municipal, foi apenas por não estarem salvaguardadas questões de segurança na entrada da Igreja. Não há divergências dentro do partido.

E o conteúdo das gravíssimas alegações do BE contra a Igreja de Alcobaça?
A nossa visão neste mandato é falar de situações positivas, não irei falar de uma situação política de um outro partido. Alcobaça está de braços abertos com a sua paróquia. Penso que todos, e nós também, estamos satisfeitos com a presença do Padre Ricardo em Alcobaça.

Que balanço faz do executivo de Paulo Inácio na Câmara de Alcobaça a nível cultural e de defesa do património?
Há muito a ser feito, seja ao nível da promoção da economia e competitividade, da criação de uma nova dinâmica na cultura e desporto, a valorização do território e os recursos naturais, a promoção da coesão social e a melhoria da qualidade de vida, o reforço do potencial humano e a inclusão social e a melhoria e modernização dos serviços da autarquia. A política cultural tem que ser repensada. Também no que respeita ao nosso património edificado, que é riquíssimo. A câmara deveria ter um papel de liderança e não de subserviência. A fruição do património por residentes e por turistas terá de constituir o objetivo principal.

 

Carlos Bonifácio. Vereador eleito pelo CDS/PP

Carlos Bonifacio

A atual direção do Mosteiro de Alcobaça promove adequadamente a dinamização cultural e turística do monumento?
Respeito a autonomia de todas as entidades, mas ainda assim, considero que o Mosteiro deAlcobaça está aquém de oferecer uma experiência diferente a quem nos visita. Por outro lado, a direção do Mosteiro devia promover uma maior aproximação entre o monumento e a comunidade local, tal como já aconteceu no passado recente e que agora não se sente.

Como vê as atitudes de hostilização da Igreja no Mosteiro de Alcobaça por parte da diretora Ana Pagará e da tutela?
As atuais relações entre a direção do Mosteiro e a paróquia de Alcobaça são inaceitáveis, são episódios demais que têm minado esta relação. São até factos inéditos nos últimos anos em Alcobaça e nunca vistos com outras direções. Há um sentimento de tensão que não é desejável. Recordo o problema da porta de vidro, da recusa em ceder a imagem de S. Bernardo à paróquia para culto no dia do padroeiro. São exemplos graves que não contribuem para uma relação que devia ser saudável.

E o conteúdo das gravíssimas alegações do BE contra a Igreja de Alcobaça?
São graves. O que se esperava do BE é que tomasse uma posição sobre os projetos a implementar em breve no mosteiro, mas não, as suas posições públicas apenas se centraram num ataque desbragado à Igreja e à Paróquia de Alcobaça. Quem os incentivou a fazer essas acusações mirabolantes dado que os membros do BE não frequentam habitualmente a vida da Paróquia em Alcobaça? De facto a prestação do BE foi infeliz e até insultuosa para a comunidade católica local, denotando também um absoluto desconhecimento pelo facto da paróquia funcionar dentro do mosteiro e estar escudada numa Concordata entre a Santa Sé e o Estado Português.

Que balanço faz do executivo de Paulo Inácio na Câmara de Alcobaça a nível cultural e de defesa do património?
Tem sido um mandato caracterizado por atraso nas obras comparticipadas pelos fundos comunitários: reabilitação do Mercado Municipal e envolvente, Avenida Vieira Natividade, MercoAlcobaça, Museu do Vinho, com excepção do Parque Verde. E por atrasos na concretização das zonas industriais e intervenção na rede viária. Registo positivamente o avanço dos centros escolares de Turquel e da Cela, faltando uma resolução efetiva em relação ao de Alfeizerão e um impulso definitivo em relação ao novo centro escolar de Pataias.

 

(Saiba mais na edição do jornal O ALCOA de 30 de maio de 2019)

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