A recente inauguração do pavilhão multiusos de Alcobaça dotou a cidade de uma infraestrutura há muito tempo aguardada e necessária, que faculta a possibilidade de organização de eventos cuja dimensão e cuja tipologia estavam anteriormente condicionadas no concelho. Embora não seja propriamente uma sala de concertos, a programação anunciada para os seus primeiros meses de vida incide particularmente na área concertística, não sendo ainda seguro que as suas qualidades acústicas estejam à altura de alguns tipos de concerto, mas sendo já evidente que as condições logísticas que disponibiliza ao público não são as melhores, provocando até o incómodo de que alguns espectadores já se queixaram relativamente às cadeiras para si disponibilizadas no pavilhão e à falta de inclinação no piso da plateia.
O Panorama é agora a menina dos olhos da cidade, notando-se para já uma centralização de eventos no seu interior, que contrasta com a inquietante marginalização que nesse enquadramento tem sido dispensada ao Cineteatro João d’Oliva Monteiro, sala de excelência da qual a música e as artes de palco têm estado genericamente afastadas, desvirtuando-se que, quer na área musical quer na das artes de palco, as suas condições acústicas e de conforto para o público são inquestionavelmente muito superiores às do Panorama. Recordo que as movimentações que no final do passado século conduziram a nossa edilidade à sua compra, concretizada em 1998, foram essencialmente inspiradas pela necessidade de Alcobaça recuperar a histórica infraestrutura para essas contexturas artísticas, em consonância com a natureza da relação estabelecida entre as organizações culturais e os seus públicos concretizada em 1999, quando foi lançada a Rede Nacional de Teatros e Cineteatros, pelo então Ministro da Cultura, Manuel Maria Carrilho. É importante e fundamental que Alcobaça recupere e mantenha bem viva a atividade regular da sua sala de concertos mais importante e qualificada, evitando que se desperdicem as suas reconhecidas qualidades e as potencialidades do seu equipamento de som, luz e palco com capacidade de enquadrar qualquer tipo de espetáculo de palco e até mesmo concertos sinfónicos, não se esquecendo o período de início do corrente século em que granjeou o estatuto de sala de referência a nível nacional, acolhendo mesmo atuações de estrelas da música mundial como Wim Mertens, Brad Mehldau, Stacey Kent, Kenny Garret, Lisa Ekdahl ou os Nouvelle Vague. Vale?