Para a história da Covid-19

No último SOL NA EIRA escrevi que sempre vem à tona as qualidades e os defeitos das gentes que vivem calamidades como aquela que atravessamos. Defendi que no meio de tudo isto há muita gente boa, para além dos papagaios e dos abutres. Embora não havendo ainda distanciamento histórico para julgamentos, podemos desde já começar a extrair algumas conclusões.
EM PORTUGAL – Atuação meritória da classe política, tanto no governo como na oposição. Muitas vezes vilipendiados, e normalmente de forma injusta, assinale-se a atitude dos políticos, de congregação à volta dos especialistas da saúde, e seu comportamento na conjuntura. Apenas em relação ao Estado de Emergência, julgo ter havido duas notas dissonantes. Uma, o Partido Comunista ter votado negativamente o último período, com o argumento de poder ver coartados Direitos, Liberdades e Garantias. O quê? Direitos, Liberdades e Garantias? Onde é que isso existiu alguma vez em países governados por regimes comunistas? A outra, a autorização dada a comemorações de rua, no dia do trabalhador. (1)
NO MUNDO – A generalidade dos governos das nações, Portugal incluído, soube assumir uma atitude sensata: seguir as recomendações emanadas da comunidade científica. As duas exceções foram, como é sabido, os Estados Unidos e o Brasil. Eles, Trump e Bolsonaro, é que sabem, os cientistas são uns mentecaptos. A 30 de Janeiro, Trump dizia: “Temos tudo sob controlo”. E, a 24 de Fevereiro: “A bolsa começa a portar-se bem”. Três dias depois, a 27: “Como um milagre, um dia o vírus vai desaparecer”, para concluir, a 7 de março: “Não estou nada preocupado, estamos a fazer um grande trabalho.” E por aí fora, até culpar a OMS e retirar-lhe todos os apoios, na sequência da retirada do Acordo de Paris sobre as alterações climáticas, da retirada da UNESCO, da saída do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas. Acabou por preconizar a injeção de venenos nos infetados. Bolsonaro acha que se trata de um “resfriadinho”, uma “gripezinha”, despreza as recomendações dos cientistas, desautoriza o ministro da saúde e acaba por demiti-lo. Ao ponto de uma entidade insuspeita, o académico norte-americano Ian Bremmer, ter afirmado que Bolsonaro “atingiu um nível de irresponsabilidade que nunca vi num líder eleito democraticamente.”
Atenção! É a isto que nos conduzem os populistas, sempre e em toda a parte.

(1) Os partidos políticos, responsavelmente, cancelaram todos os eventos. A exceção foi o PCP, que teima na realização da Festa do Avante. Inadmissível! Considero que o Governo tem gerido bem a presente crise, mas se vai admitir, como tudo indica, a realização daquela festa, cometerá também um erro. Inadmissível!

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