Referências da minha região – Casa José Dias, uma história de resistência

Foto por Faustino Ângelo

Conheci o fundador da Casa José Dias, em Aljubarrota, e tive, por companheiros de escola primária, dois dos seus filhos (Manuel e João), pelo que esta não me poderia ser indiferente.
Mas a vila de Aljubarrota merece uma nota introdutória, face ao que foi num passado ainda pouco longínquo (séculos XIX e XX). Era uma das localidades do concelho com mais estabelecimentos de “porta aberta”. No alvorecer da Primeira República, quando os transeuntes atravessavam – obrigatoriamente – a Rua Direita (Principal), eram referenciadas dezenas de tabernas e outros estabelecimentos de mercearia e similares.
Todavia, as grandes superfícies devoraram a quase totalidade do comércio tradicional da nossa região. A vila de Aljubarrota não fugiu à regra, embora ainda mantenha quatro cafés, uma pastelaria e uma coletividade aberta ao público.
A Casa José Dias, fundada na 1.ª metade do século XX, ainda conseguiu resistir durante perto de duas décadas no 1.º século deste milénio. Este estabelecimento mantinha vários ramos comerciais (taberna tradicional, mercearia, garrafeira, rações para animais, adubos…), mas conservou sempre uma tradição que fidelizava particularmente os clientes. Nos ramos hortícola e frutícola, a Casa José Dias mantinha uma relação muito privilegiada com os produtores locais. Sabendo quem produzia os melhores pêssegos, damascos, morangos, maçãs, ginjas, ou outros frutos, assegurava o escoamento da produção local. Recordo-me de ter procurado, por vezes, determinados frutos do produtor e de me responderem: “Volte amanhã”. E no dia seguinte, lá estava a encomenda, fresca, originária de um produtor da freguesia.
A Casa José Dias foi a última das grandes mercearias da vila, a honrar os pergaminhos do comércio local e tradicional, fundada por José Dias Cordeiro (nascido em 27/01/1914 e falecido em 11/03/2002) e continuada por seus filhos, alguns dos quais já falecidos. Eram sete filhos: Joaquim, Francisco, José, Manuel, João, António e Fernando. Curiosamente, o Francisco, o Manuel, o António e o Fernando, sempre os vi ao leme da marca José Dias. O José seguiu outro ramo, também empresarial.
José Dias Cordeiro conheceu todos os seus netos, pois faleceu com uma bonita idade, que lhe permitia receber em sua casa, aos domingos, os rapazes Miguel, Francisco, Sérgio, João, Isaac e Rolando, em rotatividade com as netas Anabela, Hélia, Joana, Márcia, Ana, Vera, Diana e Magda. A razão era simples: como a casa de habitação não tinha capacidade para os albergar a todos, em simultâneo, visitavam o avô, alternadamente, as meninas num domingo, enquanto os rapazes iam no domingo seguinte. Assim, em cada quinzena tinha o prazer de privar com os seus verdadeiros tesouros!
Um dos netos, o Sérgio, infelizmente já falecido, foi responsável por um dos segmentos da Casa José Dias no Centro Comercial O Pelourinho, fundado e erguido por um dos filhos do patriarca desta casa.
José Dias Cordeiro tinha também muitos afilhados. Chegou a ser presidente da Junta de Freguesia de Aljubarrota.
Muitos recordarão que aquela casa “matou a fome a muita gente”. José Dias e seus filhos, continuadores da sua obra, foram sempre castigados com os “fiados”, incomportáveis nos tempos modernos e que se diz que terão estado, em parte, na origem do encerramento, após uma história tão longa de serviço à comunidade de Aljubarrota.
A humildade de José Dias e a sua generosidade sem limites, eram virtudes que o distinguiam e merecem que seja recordado e enaltecido, a par de seus filhos, que fizeram HISTÓRIA em Aljubarrota.

Uma resposta

  1. Um grande Senhor o Sr.. Jose Dias… lembro me na minha infância de ir muitas vezes lá muitas vezes…a Esposa era tb uma Sra muito Querida…

    Gratidão ! por quem se lembra de Pessoas tão NOBRES..

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