Rota Estrada D. Maria I/D. Maria Pia- ‘Mas as crianças, Senhor, […]? ’ poeta A. Gil

Lúcia Serralheiro
Terra Mágica das Lendas

Junho, se não me falha a memória, estrada que sou, com quase dois séculos e meio, recordo neste mês os direitos das crianças, o seu dia 1 de junho e ocorrem-me histórias de nascimentos mais tristes do que alegres pelo menos quase até aos fins do séc. XX. Antes sob tempestades ou canícula, mulheres “curiosas” ou o Dr. Guerra, a cavalo, socorriam quem com dores de parto, sofria para dar à luz. Nascia-se em casa e às vezes também se ia nascer ao hospital. Aconteceu com Alice. Sua mãe ia ter a terceira cesariana e todos lhe diziam que ia morrer. Tinha dois filhos e só entrou no táxi, agarrada a eles. Queria tê-los consigo no último suspiro. E foi um médico de Coimbra, que nem de serviço estava, que lhe acudiu. Toda a sua vida rezou por ele. Havia muitos bebés e mães que morriam. Nos cemitérios havia um sítio próprio para enterrar ‘os anjinhos’. (foto desse talhão em Rio Maior). Em Asseiceira, na capela da aparição de N.ª Sr.ª, ao menino Carlos Alberto, entre os ex-votos, ofereciam mortalhos de bebés, que vingavam, pois muitos morriam. Hoje é raro, há serviços de saúde, que cuidam dos nascimentos. Antes havia crianças que mal nasciam, iam para “roda”, uma base de madeira giratória, onde as abandonavam, por várias razões. Eram os “expostos” que iam ser criados por amas. As famílias eram numerosas. Às vezes, elas mesmas, “doavam” seus filhos de tenra idade para ‘trabalharem’. Foi o caso de Clementina, com 3 anos de idade, foi “servir” para Alcobaça. Varria o chão até à grade da varanda, que cedeu e caiu no rio Alcoa. Foi salva por ‘asilados’ do Mosteiro, que assistiram da ponte. Hoje, congratula-se com a neta, que lhe foi pedir uma cebola para a mãe e vendo mais no cesto, lhe diz: – Dá mais uma, tens tantas!
Manuel Violante, caçava pássaros, com uma espingardinha de madeira, feita pelo seu irmão mais velho e o mais novo sempre que passa à capela dos Candeeiros, lembra-se, como se fosse hoje, das lágrimas que ai chorou, na despedida, antes de ele ir para a guerra colonial em 1961. E muito se sofre nas guerras, onde é “particularmente abjeta e revoltante a morte e o sofrimento de crianças, a quem é negado o futuro”, dizem os católicos na Nota da Comissão Nacional Justiça e Paz sobre a situação na faixa de Gaza.

Lúcia Serralheiro
Terra Mágica das Lendas

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