Estrada que sou, recordo conversas de quem por mim trilhou a pé, em carruagens ou dorso de animais. Hoje, velozes e ruidosas máquinas tornam mais árduo ‘o escutar’. Ainda assim, oiço triste a palavra ‘guerra’ ligada a muitas terras e trazem-me à memória do séc. XX, rapazes, que à minha beira, vi irem à I Guerra Mundial (1914-1918), como Manuel Faustino, marido de Maria Bernardina da Estalagem, (Candeeiros), e depois, outros que combateram na Guerra Colonial (1961-1974).
No Alto da Serra falou-se muito no caso de António Coito, que cumpria o serviço militar em Goa, quando a União Indiana reclamou os territórios ocupados por Portugal, desde o séc. XVI. Salazar recusou negociar. Foram todos presos num campo de concentração, onde o capelão português ofereceu a sua vida por eles. António foi dado como morto. Em Rio Maior rezou-se por sua alma e ouviram-se missas. Mas, em 1962, regressa vivo a Portugal. Há grande festa, foguetes e alegria! A partir dessa data, António agradecido, decide fazer tudo pela sua Terra. Viu as dificuldades que no Alto da Serra havia para ir buscar água à nascente da Fonte da Bica, onde as mulheres e sua mãe, Júlia do Coito, iam lavar a roupa, que molhada vinha numa gamela entre as cangalhas dos burros com cântaros de água e move mundos e fundos. Faz a Comissão de Melhoramentos e Associação Representativa Desportiva e Cultural, Casa da Muda, e entre outros benefícios, canaliza a água do Jogadouro de Freiria até ao Alto da Serra, antes do abastecimento público!
Foi muitos anos o porta bandeira dos Combatentes de Rio Maior nas cerimónias do 9 de abril junto do Soldado Desconhecido na Batalha. E isto leva-me a Manuel Ferreira Ramalho (Japão), outro ex-combatente na I Guerra Mundial, exímio construtor voluntário do edifício do Externato da Benedita, que disse a António José Inácio, da Venda das Raparigas, seu colega na Guerra de França e avô de José Inácio Neves (1951-1973), morto na guerra colonial na Guiné Bissau, que queria ser sepultado ao lado de um combatente, esse seu neto. E lado a lado repousam no cemitério de Benedita.
Solidariedades em tempos difíceis abalando uma velha estrada!
