Ser monge é ser livre*

De uma multidão de homens sós, reúna-se um grupo, destinando-o a uma missão única.

O grupo em breve encontrará o modelo para o cumprimento da missão.

Estabelecerá então uma norma, uma regra, para que em todos exista um caminho. Nesse caminho haverá o vislumbre do objetivo que deverá ser único.

O grupo eleito não poderá afastar-se do cumprimento da regra para em conjunto melhor executar a missão.

Conviverão então num espaço singular e aí trabalharão e meditarão.

Percebe-se agora que procuram Deus usando um ritual de silêncio e renúncia. Usam um exercício de meditação e praticam a humildade e a obediência ao chefe, ao Pai que elegeram.

Sentem profundamente a importância do tempo num espaço confinado que criaram para aí procurarem Deus.

Ao espaço fronteira entre eles e os outros, o mundo, chamaram Mosteiro e desejaram-no austero e à escala deles próprios.

No território confinado, a Regra delimitou-lhes o caminho interior, condicionou-lhes o movimento, desenvolveu-lhes a solidariedade comunitária.

Tuto feito em liberdade. Ser monge é ser livre. Convivem agora com a Pedra iluminada e reaprendem que a luz é simultaneamente Deus e tentação.

Desde o deserto, onde pensam ter andado quando viviam sós, que a luz é uma fábrica de miragens e ilusões. O nosso Mosteiro, dirão uns aos outros, quebrando o silêncio, é Novo para nós próprios. O nosso Mosteiro, é um “espaço” entre o visível e o invisível, é um caminho a ser percorrido por cada um de nós e todos os de Cister no percurso para o claustro da Jerusalém Celeste.

 

Rui Rasquilho

 

*Texto do Prefácio do livro de Amílcar Coelho “ ENIGMA DE CISTER- O espaço entre o visível e o invisível” a ser lançado durante o “Congresso Internacional MOSTEIROS CISTERCIENSES.”

Uma resposta

  1. Gosto da forma sistemática com que o autor do artigo sintetiza o ser monge.
    Apenas discordo e creio que pode ser a chave errónea de compreensão da vida católica monástica, a referência à “Pedra iluminada”, uma vez que na tradição cristã ocidental e oriental Deus não é visto como “Pedra iluminada”, mas Luz, luminosidade… a influência cristã a partir da filosofia clássica é clara a este respeito. A este respeito veja-se a linha do filósofo Plotino. A referência à “pedra iluminada” indica sem dúvida uma corrente que se crê gnóstica na sua base, contudo, a Gnose enquanto movimento nunca a refere. Parte sim de um sistema europeu desenvolvido em finais do século XVIII e que se crê ultrapassado.
    De resto considero de interesse a forma de ver o percurso na formação do monge beneditino…

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