Luís da Cruz Ferreira, um beneditense a residir há longos anos em Cascais, acaba de publicar a obra “Os Có Boys – Nos Trilhos da Memória”. Luís foi meu colega da escola primária, de quem quase nada sabia há mais de quarenta anos.
O título do livro pode parecer confuso, mas é no fundo um trocadilho. “Có” era um rudimentar aquartelamento que se situava perto da cidade Teixeira Pinto, no interior da Guiné. Foi com surpresa que recebi com dedicatória o seu livro. Retribuí-lhe, como mandam as regras de educação. Ofereci-lhe o meu último livro “A Benedita e o Mundo Rural”. Outros bem “falantes” esquecem-se de agradecer os livros que lhes oferecem. O livro de Luís da Cruz Ferreira, na minha opinião, está bem escrito, bem adjetivado, muito ativo, cintilante, verdadeiro e real.
O texto em questão é uma obra onde se fala do cheiro a pólvora, do Aeroporto de Bissalanca, das péssimas condições em que se vivia, da falta de munições. Narrativas do Batalhão de Artilharia nº 6521, de outros beneditenses que lá estiveram, da sensação estranha do que foi sentir aquele calor extremo africano pela primeira vez, da viagem até Bolama, dos militares de calções esfarrapados com metralhadoras de fita H-K21 Na página 58 o autor escreve: ”Tínhamos medo, um medo estranho”. Escreve mais adiante: “Não tomei notas de nada, tudo o que escrevo é de memória”. Escrever um livro com 150 páginas, assim, não é fácil.
Pelo chamado Ultramar terão passado cerca de um milhão de militares: estarão vivos apenas trezentos e cinquenta mil.
Os homens passam e os livros ficam para que a memória não se perca.
Parabéns, Luís, por este brilhante depoimento. Um abraço. Nota final – só sabe o que foi a guerra da Guiné quem passou por lá.
Embora tenha tido uma “pré-mobilização” para S. Tomé e Príncipe, acabei por cumprir três longos anos de serviço militar na Metrópole. Ter ido para a policia militar foi bom já que ficaria, sempre, na retaguarda. África passou-me ao lado. Por isso, nunca me vou aperceber, na plenitude, do que foi a guerra da Guiné.