Vamos açambarcar

Está aí o Covid-19. Como tantas outras alturas de ameaça de crises, vamos lá a açambarcar. Dei por isto na passada semana quando fui ao supermercado abastecer-me, como faço habitualmente. A uma hora de fraca afluência, deparei-me com um desusado movimento de compras. Eram carrinhos a abarrotar, eram muito mais caixas abertas. Perguntei o porquê de toda aquela azáfama. É o coronavírus. Ah, é verdade, anda por aí o vírus. E então eu, que sou tão solidário com o meu semelhante, eu que até sou um bom cristão, quero lá saber dessas coisas, vou mas é açambarcar! Levo 40 pacotes de leite e, se o meu vizinho vier a seguir e quiser levar dois ou três pacotes, já não há. Ele que se trame, beba água. Carrego o carrinho do super e amanhã venho de novo para levar outra remessa. Defendo-me a mim e à minha família, os outros que se arranjem, comam menos. Sou prudente sempre que há ameaças (ou pseudoameaças) de crise. Por exemplo, quando prevejo ameaças com o fornecimento de combustível, encho de gasolina os 30 jerricans que tenho lá em casa para o efeito, encho o depósito do carro e pronto. Os outros que se tramem, andem a pé. Faço sempre o mesmo: açambarco. Vem aí o coronavírus? Estou prevenido. A mim não me apanham em falso, não… já tenho lá em casa 50 latas de conserva, 30 quilos de bacalhau, e tudo. Fui ao talho e comprei um borrego, 15 quilos de carne de vitela, 20 quilos de porco e sete frangos. Fui à farmácia e comprei 10 frascos de álcool.

É certo que estas crises nunca se têm confirmado, e depois estraga-se mais de metade da mercadoria que adquiri. Mas eu previno-me. E se algum dia se confirmar a crise anunciada, o meu vizinho e todos os outros morrem à míngua, enquanto eu cá fico ainda durante uma semana ou mais. Sou ou não sou um gajo esperto?

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