Visita guiada ao Museu do Vinho

Foto por Sara Susano

Depois de cinco anos de portas encerradas, o Museu do Vinho voltou a abrir-se à visita do público, de forma regular, no passado dia 28 de junho.
Segundo Alberto Guerreiro, museólogo, técnico da Câmara Municipal de Alcobaça e membro da Comissão Instaladora do Museu do Vinho, “o museu transitou para a câmara em outubro de 2012”. Assim, “recebemos o museu exatamente como está e, desde então, foi iniciado um plano de intervenção”, explica
o museólogo.
O projeto de intervenção no museu consiste em várias etapas. “A primeira fase é precisamente pegar no museu e começar a trabalhá-lo, verificar o que é que recebemos passados cinco anos”, adianta Alberto Guerreiro, constatando que o encerramento “é visível sobretudo nas fachadas”. A segunda ação foi a reabertura mas sem inauguração “porque o museu ainda não está na perspetiva que queremos introduzir”, adianta Alberto Guerreiro. O conceito atual é “um museu em construção”, em que os visitantes podem assistir às intervenções a realizar. Segundo o técnico, a coleção do museu é “a mais completa e mais importante das coleções vitivinícolas incorporada num espaço físico”.
Alberto Guerreiro guiou O ALCOA numa visita ao museu que, segundo o próprio “só em edifícios tem cerca de 11 mil metros quadrados”.

visita011. Balseiros – A visita tem início sempre nos Balseiros porque este é um espaço quase com uma perspetiva simbólica. É um espaço que, segundo Alberto Guerreiro, “resume as três fases pelas quais passou este espaço”. Ainda se vão mantendo as marcas da adega do século XIX que foi fundada por José Eduardo Raposo Magalhães nos finais do século XIX. Essa marca ainda é visível, seja nas pias de lagar, seja nos azulejos da adega. Também por trás dos balseiros estão algumas marcas que mostram a originalidade deste espaço como as portadas e a própria arquitetura do edifício. “Não seria uma adega de balseiros porque os balseiros foram introduzidos nos anos 40, seria porventura uma adega de depósitos de vinho em tonel”, explica Alberto Guerreiro. Na altura de José Raposo Magalhães a conservação dos vinhos era feita essencialmente em tonel. Também é uma expressão da fase da constituição de um museu a partir dos finais dos anos 60, “ainda que apenas tivesse começado a abrir ao público já nos anos 80, era aqui que o próprio engenheiro Paixão Marques e a sua equipa iniciavam a visita”. O testemunho disso é a cabine introduzida que serviu de receção ao próprio museu. Iniciamos aqui porque este e um espaço que marca as três fases da Adega do Olival Fechado que depois deu origem ao Museu do Vinho.

 

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Segundo Alberto Guerreiro, “o que vemos na Adega dos Depósitos é o deslumbramento da coleção do engenheiro Manuel Augusto Paixão Marques e era esta a visão que ele tinha de museu, ou seja, ele tinha uma visão essencialmente colecionista em que se via o total preenchimento das paredes”. Há o preenchimento total do espaço. Não há espaços vazios, não há zonas em branco. Há um preenchimento total do espaço com as coleções porque “é esse preenchimento total do espaço com as coleções que lhe dá esse estatuto”. Este estatuto é muito marcado por duas coleções que lhe vão dar realmente esse peso que e a coleção de garrafas e a coleção de rótulos. São elas que no fundo servem quase como pele deste museu e que vão dando um estatuto de grande coleção. É uma coleção muito vasta, provavelmente é a mais completa e a mais importante do país num único espaço. São cerca de 8700 as peças da coleção. Garrafas são cerca de 2000 e rótulos são cerca de 2700.

visita03Adega dos Vinhos Brancos – Alberto Guerreiro considera ser mais correto chamar Lagar dos Vinhos Brancos, por ser uma zona de lagar. “Não era aqui que se fazia o depósito de vinho. Este é um espaço dedicado principalmente à transformação do vinho. Tal como a adega dos depósitos é um testemunho da transformação da arquitetura dos anos 40, aqui é precisamente a marca da arquitetura original. Aqui como no lagar dos vinhos tintos, conseguimos ler o que terá sido a adega de Raposo Magalhães. São momentos da arquitetura que se mantiveram. É um belíssimo lagar que sobreviveu à própria intervenção industrial da JNV. Estamos a falar de um lagar de uma casa agrícola, ou seja, de uma casa de produção vitivinícola dos finais do século XIX já com um grande peso. Era no fundo uma unidade pré-industrial. Era uma adega de ponta da altura. Ele usava a melhor tecnologia da altura. Exportava para o Brasil e para as colónias. Não era meramente um lavrador/produtor regional ou local”.

visita04Adega dos Depósitos – Paixão Marques no que Alberto Guerreiro chama de “cantinho da arte” documentou o vinho através da arte plástica. Dentro da zona da Adega dos Depósitos existem várias galerias que foram realizadas através da abertura dos depósitos onde as pessoas podem entrar “o que é de facto único”. As pessoas ficam logo muito admiradas por estarem de facto dentro dos depósitos. “Há aqui um desequilíbrio entre a atenção que ele dava a Alcobaça e a que ele dava ao âmbito nacional porque ele de facto queria fazer um museu nacional” explica o museólogo adiantando que “temos que repensar esta situação porque a primeira responsabilidade de um museu é com a comunidade em que está inserido e aí tem que haver uma leitura do próprio espaço. Temos uma adega que faz parte da história local”. Aqui é possível ver a mesa de provas que era utilizada pelo fiel de armazém para a conferência da qualidade do vinho.

 

visita05Adega dos Vinhos Tintos – É uma zona interessante porque está visível o confronto entre a arquitetura original e a arquitetura imposta pela JNV.  Segundo Alberto Guerreiro, “é idêntico ao Lagar dos Vinhos Brancos mas tem uma dimensão maior”. “Aqui consegue-se ver com mais clareza a inovação e a modernidade desenvolvida por Raposo Magalhães, marcando o estatuto da coleção através das garrafas”. Na adega dos Vinhos Tintos, está a coleção de canjirões de cerâmica. “Sabe-se que foram as primeiras peças que entraram no museu e que vieram da JNV”, conta Alberto Guerreiro.

 

 

 

visita11Depósitos- Podemos percorrer o museu dentro dos depósitos. “Para além de ser uma excelente forma de se ver a arquitetura do edifício, é uma experiência interessante para as pessoas poderem entrar realmente dentro dos depósitos”, explica Alberto Guerreiro que “aqui não estamos em caves, estamos em depósitos e isto eu não conheço em nenhum outro sítio”. Este espaço é importante para dar a tónica da importância desta coleção, sobretudo a tónica nacional. Existem peças que depois de analisadas e estudadas precisam de ser restauradas. O objetivo é fazer o restauro no próprio museu. Ou seja, os visitantes terão oportunidade de assistir aos restauros. “Queremos seguir o conceito de museu em construção”, adianta o museólogo. Várias peças de artes gráficas que mostram as estatísticas de produção nacional de vários anos.

 

visita06Adega dos Tonéis – É aqui que costuma terminar a visita porque dá uma ideia de acabar como se começou. “Começamos com uma evocação daquilo que poderia ter sido a adega tradicional de Raposo Magalhães e terminamos na Adega dos Tonéis que no fundo é a feição original do que seria a zona de depósito em tonel”. Há aqui uma bela coleção de tonéis que vêm do século XVIII. “É aqui que fazemos no final da visita degustação de vinhos da Adega Cooperativa”, declara Alberto Guerreiro informando que se pretende “utilizar este espaço para eventos como já temos feito com o lançamento de livros e jantares”.

 

 

Anexos – Normalmente não estão abertos ao público, mas poderão estar abertos em visitas organizadas.

visita10Casa da Malta – Espaço onde se pensa que viviam os trabalhadores.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

visita09Oficina de Tanoaria – Espaço onde estão expostas as diversas ferramentas usadas pelos tanoeiros para o fabrico de vasilhas e tonéis.

 

 

 

 

 

 

 

 

visita08Abegoaria – Espaço que mostra a realidade da utilização de veículos de tração animal no transporte de uvas, vinho e de trabalhadores.

 

 

 

 

 

 

 

 

visita07Taberna – Espaço fresco e escuro, frequentado por homens nos seus momentos de descanso. Um espaço com um potencial enorme até em termos comerciais.

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