A Cozinha Moderna. Revisitando o Mosteiro

A cozinha moderna do Mosteiro de Alcobaça, reformada pelo abade Frei Pedro de Mendonça em 1750, veio substituir a antiga cozinha, situada, inicialmente, no outro lado do refeitório. Antes de a presente funcionar, existiu aqui o chamado «calefactório». Esta palavra, como muitas outras, vem do latim, calefactorium, que significa «aquecedor». Tirando a cozinha, o calefactório era, de facto, a única sala do Mosteiro a possuir uma lareira onde os religiosos podiam vir aquecer-se. Sobretudo no Inverno, depois do longo ofício da noite, os monges podiam vir aquecer-se aqui um bocado. Os mais velhos principalmente.
No século XVIII, com os progressos da higiene e o crescimento da comunidade com as visitas que se multiplicam, com o turismo a nascer, aparecem mais estrangeiros a visitar Portugal. Na Grand Tour pela Europa, o Mosteiro de Alcobaça tornara-se ponto de visita. Por outro lado, a Família Real ia quase todos os anos em peregrinação à Senhora da Nazaré, então o maior santuário mariano de Portugal, e costumava passar, nessa ocasião, uma ou duas noites no Mosteiro, com uma comitiva geralmente constituída por centenas de pessoas, mais as centenas de cavalos a abrigar e a alimentar também. Daí a necessidade de haver uma cozinha muito grande e bem equipada. Primeiro que tudo, a água corrente, e, depois, bons fogões, boas chaminés. Mas havia o problema do fumo… Em Alcobaça, os ventos dominantes são, na maior parte do ano, de noroeste, de maneira que levavam o fumo para o interior dos edifícios e para a igreja. Para obviar a este inconveniente, os monges lembraram-se de construir, por volta de 1750, esta enorme chaminé, capaz de levar os fumos, lá, muito alto, para cima dos telhados. E nela foi usado, pela primeira vez em Portugal, o ferro fundido, nas oito colunas que a sustentam. Muito antes do Eiffel construir, em finais do século XIX, as suas pontes e, em Paris, a sua famosa torre…

Fonte: Gérard Leroux (2017), “Uma visita ao Mosteiro de Alcobaça”

Saiba mais na edição impressa e digital de 1 de abril de 2021.

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