Os Canteiros da Benedita III

João Luís Maurício
Professor de História aposentado

É impressionante a falta de documentação que existe sobre o tema que aqui me trouxe. A obra “Condição da Mulher Numa Paróquia Rural de Portugal – Benedita”, de Susana Almeida, poucas pistas nos fornece sobre esta atividade.
A extração da pedra na freguesia, nos meados do século XX, empregava pouca gente. Pelos inquéritos feitos pela autora, que me parecem rigorosos, havia, apenas, 55 canteiros, enquanto, por exemplo, os sapateiros eram 616 (em 1958).
Os canteiros eram todos residentes na freguesia. Achamos, contudo, estranho que a estudiosa não se refira, no capítulo “Economia Industrial” à temática da pedra, atividade que a nível local, nessa época, tinha já alguma expressão económica. Sendo os canteiros mal pagos, como todos os trabalhadores, eram, contudo, os trabalhadores da pedra, os mais bem pagos na freguesia, se os compararmos aos carpinteiros, sapateiros, trabalhadores agrícolas e cutileiros.
Esse facto tinha a ver com a perigosidade da atividade, já que nas minúsculas oficinas, os canteiros eram, em simultâneo, cabouqueiros, ou seja, eram eles que extraíam os blocos de pedra usando a pólvora. Eram, ainda, aparelhadores, ou seja, quem eliminava as saliências maiores.
Alguns soldados beneditenses que estiveram na Primeira Guerra Mundial, eram canteiros, antes de ingressarem no serviço militar, no início do século XX.
Talvez há sessenta anos, vieram homens da região de Coimbra trabalhar para as pedreiras da Benedita. O povo anónimo e simples chamava-lhe “Os Coimbras”. Era gente da região conimbricense que tinha tradição em trabalhar a pedra, nomeadamente, de Ançã.
Não é por acaso que, em Cantanhede, existe o Museu da Pedra.

João Luís Maurício
Professor de História aposentado

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