A arte e a bíblia (IV)

Carlos Araújo
Professor no Colégio Nossa Senhora de Fátima – Leiria

Com o Concílio Vaticano II, a Palavra de Deus reencontrou o lugar que ocupava no tempo dos Padres da Igreja. O povo cristão estivera, de facto, afastado de um contacto direto com a Palavra de Deus, a ponto de dar a ideia de a Bíblia ser um livro para uso dos protestantes. Assim, se explicam a novidade e impacto da disposição contida no nº 51 da Constituição Sacrosantum Concilium: «Prepare-se para os fiéis, com a maior abundância, a mesa da Palavra de Deus: abram-se largamente os tesouros da Bíblia, de modo que, dentro de certo número de anos, sejam lidas ao povo as partes mais importantes da Sagrada Escritura». No fundamento desta determinação está a verdade, realçada no nº 7 da mesma Constituição, a de que «Cristo está sempre presente na sua Igreja». Está na Eucaristia, nos sacramentos, na Igreja reunida em oração, e, como acrescenta o referido número, está também «na sua Palavra, pois é Ele que fala ao ser lida na Igreja a Sagrada Escritura». Mais tarde, em novembro de 1965, também a Constituição Dei Verbum afirmará, no nº 21, que: «A Igreja venerou sempre as Sagradas Escrituras, como o próprio Corpo do Senhor, não deixando, sobretudo na sagrada Liturgia, de tomar o pão da vida tanto da mesa da palavra de Deus como do Corpo de Cristo e de o distribuir aos fiéis. Sempre as considerou e continua a considerar, juntamente com a sagrada Tradição, como a regra suprema da sua fé, visto que, inspiradas como são por Deus e escritas de uma vez para sempre, comunicam imutavelmente a palavra do próprio Deus e fazem ressoar, através das palavras dos Profetas e dos Apóstolos, a voz do Espírito Santo. É necessário, por conseguinte, que toda a pregação eclesiástica, bem como a própria religião cristã, se alimentem e se orientem pela Sagrada Escritura. Com efeito, nos livros Sagrados, o Pai que está nos céus vem amorosamente ao encontro de Seus filhos e conversa com eles; e é tanta a força que se radica na palavra de Deus, que é, na verdade, apoio e vigor da Igreja, fortaleza da fé para os filhos da Igreja, alimento da alma, fonte pura e perene da vida espiritual». O Papa João Paulo II, tendo por base alguns autores, afirmava que a Sagrada Escritura é um «dicionário imenso» e um «atlas iconográfico», onde beberam a arte e a cultura cristã, transformando-se numa fonte de inspiração. O Papa Bento XVI, ao falar da relação entre a Palavra de Deus e a cultura, afirmava que tal relação se evidencia, de modo muito particular, no mundo da arte. Portanto, a renovada convicção da presença de Cristo na Palavra proclamada conduziu à completa restruturação da Liturgia da Palavra na Eucaristia e na celebração dos sacramentos. Na verdade, a Palavra deve ser viva, pois traz consigo conhecimentos e muitas informações, nomeadamente históricas e culturais. Deste modo, a opção do Concílio é, sem dúvida, pelo Deus da Palavra, que apela a fazer tudo para que a Palavra continue a ser proclamada, comunicada, ouvida, e encontre em cada um dos cristãos um discípulo e mediador fiel.

Carlos Araújo
Professor no Colégio Nossa Senhora de Fátima – Leiria

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