A Benedita e as Monografias

João Luís Maurício
Professor de História aposentado

Reconstruir a História sem documentos é uma tarefa espinhosa, muito difícil e perigosa. José Luís Machado, correspondente de “O Alcoa durante uma vida, inúmeras vezes me disse que escrever a História da Benedita foi um processo doloroso. A razão tinha a ver com a falta de documentação.
Aproveito esta crónica para deixar aqui, um enorme elogio, póstumo, ao Zito. Tive o privilégio de o ter acompanhado, há mais de meio século, nas suas pesquisas, na Biblioteca Nacional e na Torre do Tombo.
José Luís Machado tinha uma facilidade raríssima para interpretar textos antigos, alguns com mais de seiscentos anos. Realidade igual só a posso comparar aos meus professores de Linguística.

Ainda, hoje, me interrogo, como é que uma pessoa, cuja formação académica era apenas o sexto ano de escolaridade, o conseguia fazer com uma facilidade que me deixava pasmado. Acho que era um dom nato que ele possuía. Infelizmente, nunca o consegui imitar. Foi nessa altura que o autor do “Tempo Imemorial” me chamou a atenção para o conteúdo das Memórias Paroquiais da Benedita.

A 12 de abril de 1758, o pároco Manoel Correa Carneiro escreveu que a “Paróquia era muito pobre”. Sendo assim, fico perplexo, quando leio, por aí, que a “Benedita no século XVIII já era uma terra progressiva”!

Recentemente, a Dr.ª Sónia Rebocho do Serviço de Investigação e Arqueologia da autarquia riomaiorense teve a simpatia em me oferecer a obra “Memórias Paroquiais de 1758 – Concelho de Rio Maior” Aí, se pode ver que o Padre e Cura de Alcobertas, Manoel da Sylva e Reis, na sua prosa, inserida na obra referenciada, datada de 20 de abril de 1758, nem uma palavra dedica à Quinta da Serra. Esta nova leitura coloca, na ordem do dia, a falta de documentação referida anteriormente. Fecha-se, assim, a “pista” das Alcobertas.

Termino, referindo-me, mais uma vez, a José Luís Machado. Há anos, um jovem beneditenses, aluno do ensino superior, num trabalho académico, escreveu que “Machado não teve o reconhecimento que mereceria ter tido”. O Zito chegou, até, a ser “algo ostracizado”, por quem não o deveria ter feito. Acrescento eu!

João Luís Maurício
Professor de História aposentado

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