A praga dos telemóveis nos concertos

José Alberto Vasco
Escritor

De há muito tempo a esta parte continua a desvendar-se o compulsivo desplante de indivíduos que passam uma considerável parte dos concertos e outros espetáculos a que supostamente assistem com o seu telemóvel em configuração de máquina fotográfica, incomodando e adulterando visibilidade de palco e de sala aos espectadores que se situam atrás de si e ao seu lado. É enigmático o obsessivo desígnio que conduz essas criaturas a comprarem bilhetes, por vezes caríssimos, e depois passarem praticamente todo o tempo de um concerto a filmá-lo, optando por não assistir ao mesmo em direto e por mais tarde o visionar noutra localização, num indistinto écran. Portugal continua grosseiramente incivilizado neste contexto e ainda recentemente registei situações lesivas, durante o olímpico concerto da islandesa Björk em Lisboa, em que logo de entrada o público era informado não ser permitido filmar ou fotografar o evento. Apesar disso, pelo menos na zona da plateia em que assisti, vários foram os insubordinados que durante o espetáculo empunharam freudianamente os seus telemóveis e resolveram fantasiar-se em cineastas da ocasião e do ego, desrespeitando as orientações da organização do concerto e perturbando obviamente o público confinante. Várias foram as vezes em que elementos da organização se lhes dirigiram e enunciaram a egolatria que estavam a exteriorizar, responsabilização que não resultou completamente, tendo sido necessário que outros espectadores fizessem valer os seus direitos e os demovessem, frontal e verbalmente, da sua insensata atitude e da sua vacuidade cívica. Mais uma vez assumi essa fleumática e sensata via com sucesso, comprovando que esse posicionamento consegue convencer sem violência física.
O ideal nestas situações seria que houvesse educação e civismo entre o público e que todos se respeitassem, até para conforto dos próprios prevaricadores, evitando que fossem necessárias medidas de contenção de porte e uso de telemóveis nos espaços de concerto, como já se faz, por exemplo, em atuações de estrelas rock como Bob Dylan ou Jack White. Como se costuma dizer, a boa educação cabe em todo o lado e não deveria ser preciso resolver tudo à bruta, como preferem algumas malfadadas e vis criaturas.

José Alberto Vasco
Escritor

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