Avanços ou Retrocessos

P. Tiago Roque
Pároco de Alcobaça e Vestiaria

Assistimos ao avanço da questão da eutanásia no nosso país. Marcou-me o facto de, no passado dia 13 de Maio, o Papa Francisco ter mencionado a situação. Sem dúvida que no coração de um Pastor cabe o mundo inteiro. Dizia ele, sem leituras, mas com o que lhe vinha na alma no momento: “Hoje estou muito triste, porque no país onde apareceu Nossa Senhora foi promulgada uma lei para matar. Mais um passo na grande lista dos países que aprovaram a eutanásia.”
A morte medicamente assistida é frequentemente apresentada como um avanço considerável a nível dos direitos e da qualidade de vida humana. Contudo, a Igreja e várias outras religiões presentes em Portugal têm-se manifestado contra a legalização deste flagelo. Como é que matar pode ser um avanço? Não é antes um dos maiores retrocessos de sempre? A Igreja não poderia ter outra opinião sobre o facto. Acima de tudo, cabe-lhe defender a vida, desde a conceção até à morte natural. Nunca a eutanásia. Nunca o aborto.
Nos meus tempos finais de Seminário, fui convidado a participar num campo de férias, com jovens entre os quinze e os dezoito anos. Passámos uma semana numa quinta alentejana, entre jogos e, como se dizia por lá, algumas “beatices” (Eucaristia; orações). Na nossa equipa de animadores tínhamos um padre e dois casais. Encontrávamo-nos em reflexão, quando o nosso silêncio foi interrompido por um riso do João. O filho de um dos casais. Um rapaz com Síndrome de Angelman. O padre aproveitou o momento para nos dizer: “Este riso foi maravilhoso, não foi?” Todos sorriram e acenaram. Então, continuou: “Em alguns países da Europa, nunca o teríamos ouvido. O João não teria nascido.” Gerou-se um silêncio absoluto entre todos. De facto, nesses países teria sido abortado. Por ser imperfeito… ou por vir a ser difícil para a família lidar com o seu problema… corta-se o “mal” pela raíz. Mas porque não a vida? Porquê descartar as pessoas?
A melhor forma de lidar com os problemas dos outros mantém-se a que Jesus nos propôs: amar. Empenhemo-nos em acompanhá-los. Em dar-lhes a entender que não são um peso. Porque são amados. Escutemo-los. Procuremos os meios que a ciência nos dá para aliviar a sua dor. Esses, sim, são verdadeiros avanços. Maria, em 1917, em Fátima, propôs que de tudo fizéssemos pelo fim da guerra. Hoje, chamar-nos-á a pôr um termo nas nossas guerras atuais. A guerra contra a vida será certamente uma delas.

P. Tiago Roque
Pároco de Alcobaça e Vestiaria

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