Cumprir o propósito de Cristo

José Maria André
Professor do I. S. Técnico

O Vaticano publicou a 13 de junho o livro «O Bispo de Roma. Primado e sinodalidade nos diálogos ecuménicos e nas respostas à Encíclica “Ut unum sint”», um documento de trabalho sobre os êxitos e as canseiras do diálogo de dezenas de comissões inter-religiosas acerca do ministério do Papa. A simples enumeração deste material — relatórios, pareceres, declarações… — impressiona pelo número de pessoas envolvidas, pelo empenho de todos, pela consciência colectiva de responder perante uma exigência divina.
Conhecemos muitos pormenores das derradeiras horas de Jesus, na sua última noite, antes de ser preso e condenado. O Evangelho de S. João transcreve extensamente essa oração dramática a Deus Pai em favor da unidade da Igreja. Os outros Evangelhos completam as frases e o contexto da cena. S. Lucas refere que Jesus, «numa luta angustiosa, pôs-Se a orar ainda mais instantemente e o suor tornou-se-Lhe como grossas gotas de sangue que caíam na terra».
Desde o final do século XIX, os fiéis das várias comunidades cristãs sentem a urgência crescente de cumprir o propósito de Cristo e reconstituir a unidade. Isto nota-se sobretudo entre católicos e protestantes, mas também, mais recentemente, entre os ortodoxos.
Principalmente depois do Concílio Vaticano II e mais ainda com João Paulo II, a Igreja católica promoveu muitas iniciativas ecuménicas. Na sua Encíclica «Ut unum sint», João Paulo II propôs que todas as comunidades cristãs procurassem, em conjunto, formas novas pelas quais o ministério do Bispo de Roma pudesse realizar um serviço de amor reconhecido por todos. A primeira frase dessa Encíclica («ut unum sint», para que sejam um) é significamente uma das petições mais repetidas por Jesus na sua oração angustiosa no horto das oliveiras, pedindo pela unidade. Felizmente, a Encíclica «Ut unum sint» foi escutada também fora dos confins da Igreja católica.
O livro recém-publicado pelo Vaticano mostra que se está a redescobrir a preeminência de Pedro entre os apóstolos. A generalidade dos teólogos e responsáveis não católicos reconhece hoje que a primazia do Bispo de Roma é parte do plano de Deus para a unidade e universalidade da sua Igreja. O clima de respeito recíproco fez com que muitos dos que se opunham ao ministério de Pedro mudassem de perspectiva. Muitos deles reconhecem a tradição apostólica e compreendem que a função do Papa não se opõe à comunhão episcopal. Muitos não católicos são particularmente sensíveis às necessidades da missionação e de encontrar uma unidade mais estruturada, nestes tempos de globalização.
Durante muito tempo, os ortodoxos alimentaram uma aversão muito forte à Igreja católica, mas hoje em dia recordam a unidade que vigorou na Igreja no primeiro milénio como modelo do que deveria ter continuado a existir. O livro refere algumas dimensões curiosas do ecumenismo, como as peregrinações a Roma dos cristãos de diversas tradições. Embora essas pessoas não estejam ainda em comunhão com a Igreja católica, pedem a Deus a graça de chegar à unidade.
Desde que o movimento ecuménico se intensificou, o magistério pontifício tem sublinhado que a unidade não vai resultar do esforço humano. O livro recém-publicado diz mesmo que isto é «uma intuição básica do movimento ecuménico». A unidade alcançar-se-á como dom de Deus, como realização do querer de Cristo por obra do Espírito Santo. A propósito, o livro cita o Papa Francisco: «a unidade não surgirá como um milagre no final [do diálogo]. A unidade crescerá caminhando; o Espírito Santo realizá- -la-á ao longo do caminho. (…) Não somos nós quem fará isso, será o Espírito Santo, que vê a nossa boa vontade».

José Maria André
Professor do I. S. Técnico

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