Editorial

Catarina Reis
Diretora do jornal O ALCOA

No início de novembro acompanhei um familiar, com 70 anos, ao seu médico de família, para uma consulta de rotina. Uma consulta que demorou 20 minutos, sem qualquer contacto físico. Com isto quero dizer auscultação, medição da pressão arterial, ou outra. Houve apenas troca de informação, muito mecanizada e pouco humanizada, entre alguns pedidos de medicação e exames de rotina.
O médico, com idade próxima da reforma, veio substituir a médica de família que esteve naquele centro de saúde desde que se formou na especialidade de Medicina Geral e Familiar. A doutora tratava o meu familiar com um cuidado especial, como se o conhecesse desde sempre, e conhecia porque o acompanhou desde criança. Não querendo comparar ou avaliar práticas profissionais, mas com este médico, o tratamento, o cuidado e a atenção são muito diferentes. O meu familiar parece ser apenas mais um utente no meio de tantos outros, mas ainda assim feliz por ter um médico de família atribuído. Nos concelhos de Alcobaça e da Nazaré, ainda há 5.407 utentes sem equipa de família atribuída.
A medicina familiar é uma das áreas-chave, se não a mais relevante, da saúde. O médico de família segue o utente durante todas as fases de vida, desde o nascimento até ao final desta. É, portanto, aquele médico que nos acompanha como um todo, que mais sabe de nós, em termos de histórico clínico, mas também em termos de vivências pessoais. Há uma ligação que ajuda sobretudo na prevenção. A falta de um bom acompanhamento, ou não o ter de todo, é preocupante. Situação agravada pelos atuais constrangimentos do Serviço Nacional de Saúde e pelos problemas crónicos das urgências.
O direito à saúde é geral e universal, mas, para isso, importa promover o acesso ao médico de família. Olhando-o como o coração do sistema, devemos encará-lo como um investimento fundamental na nossa sociedade e fazer tudo para o manter vivo. O médico de família é o especialista da ligação entre a saúde e a doença. Se não houver saúde na Medicina Geral e Familiar, não há saúde.

Catarina Reis
Diretora do jornal O ALCOA

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