Em que se fala de Fado e Tourada

1. As relações entre o Fado e o Estado Novo não foram totalmente isentas de conflitos. Como é que a ideologia moralista do regime enfrentaria uma manifestação de raízes populares e que simultaneamente se desenvolvia em antros de vadiagem? Com a profissionalização do Fado, passou a ser necessário carteira para se atuar em público, reivindicando-se a figura do fadista honesto e não se impedindo que os operários cantassem na oficina ao som de martelos e bigorna.
2. Para sobreviver, o Fado teve de se submeter ao Regime, daí a fama injusta de o servir acefalamente. As letras não escapavam ao exame da Inspeção-geral dos Espetáculos. A 9 de dezembro de 1939, no Café Mondego, em Lisboa, as letras foram enviadas para a Inspeção-geral dos Espetáculos, a fim de serem aprovadas, antes da apresentação em público. O fado Tejo, Canção da Saudade, da autoria de Aureliano Lima da Silva, mereceu a aprovação da Censura. Já um outro do mesmo autor, A Guitarra, foi aprovado com cortes.
3. Diferente destino teve o Fado Socialista (de seu nome), escrito em 1927, por Ramada Curto que foi proibido: Gente rica e bem vestida//P’ra quem a vida é fagueira//Olhem qu’existe outra vida//N’Alfama e na Cascalheira! (…) Mas um dia hão-de descer//Os lobos ao povoado…//Temos o caldo entornado//Vai ser bonito de ver//Não verá quem não viver//O fogo d’essa fogueira//Soa a hora derradeira//De quem é feliz agora…//Às mãos da gente que chora.
4. Em 1973, ocorreu uma pequena novela. No Festival RTP da Canção, quando Fernando Tordo cantou Tourada, correu a notícia com naturalidade de que a censura tinha intervindo. A escassos dias do Concurso Eurovisão, a RTP/Portugal ficava sem representante. Ramiro Valadão (presidente da RTP) pegou no telefone e entabulou conversa com o secretário de Estado, César Moreira Baptista. Desligado o telefone, Valadão disse que a canção passava. E… porque tudo o mais são tretas, como rezava a letra, Fernando Tordo partiu para Luxemburgo, onde obteve um 10º. lugar, entre 17 concorrentes.

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