Exigência

Ana Caldeira
Diretora do jornal O ALCOA

Diz-se no futebol que uma equipa só joga o que a outra deixa jogar.

Nos anos 90, a vice-primeira ministra da Suécia demitiu-se, admitindo em conferência de imprensa, ter utilizado um cartão de crédito do Governo para comprar chocolates e outros artigos pessoais. Não se tratou de roubo já que a ministra Mona Sahlin ressarcia depois o Estado dessas despesas, mas os suecos não lhe perdoaram o uso indevido do cartão. Em 2016, outra ministra sueca demitiu-se por conduzir com 0,2 miligramas de álcool no sangue, taxa acima da qual é delito na Suécia.
E outros exemplos poderíamos acrescentar. Em Portugal, estamos, a este respeito, longe da Suécia. Em 2011, foram mais de 1,5 milhões a votar num ex-primeiro ministro agora pronunciado, ao tempo já envolvido em graves suspeitas. Enquanto não formos mais exigentes, a começar com os decisores políticos, não conseguiremos subir na tabela dos indicadores de bem-estar e desenvolvimento. Comemorámos há pouco o 25 de Abril. Muito se evoluiu, mas muito há por fazer quanto à corrupção, às nomeações sem mérito, ao clientelismo, à falta de transparência e de prestação de contas nas grandes decisões do país. Por exemplo, houve um manifesto defendendo que a política energética desastrosa com as renováveis (e suas feed-in tariffs que nos cobram uma das faturas de eletricidade mais caras da Europa), se pode repetir com o hidrogénio verde. Às críticas de um professor catedrático do Instituto Superior Técnico, respondeu o atual secretário de Estado da Energia, João Galamba, no Twitter: “É um aldrabão, é um mentiroso do pior”, acrescentando “Chama-se Clemente Pedro Nunes e é um aldrabão encartado”.
Se os outros povos permitissem, provavelmente alguns dos seus políticos também responderiam assim de modo arrogante ou roubariam mais do que chocolates. Teremos em breve novas eleições. Viva a liberdade de pensamento e de voto, mas tenho pena que muitos votem como no futebol: voto neste «clube» porque sim. Sem exigência, nada nem ninguém evolui.

Ana Caldeira
Diretora do jornal O ALCOA

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