Já cá chegou

Afonso Luís
Bancário aposentado

Há exatamente 114 anos, a 31 de Março de 1910, a revista ALMA NACIONAL, dirigida por António José de Almeida, publicava um comentário do qual extraio este pequeno texto: “É preciso que os portugueses reparem que a caricatura célebre de Bordalo Pinheiro, que representava o povo português indiferente e estúpido, pedindo mais albarda sobre o peso da albarda que já tinha, não era mais do que uma genial representação do nosso povo…” Vem isto a propósito dos resultados das recentes eleições legislativas. Comentadores e analistas mais ou menos independentes são unânimes nas suas observações, de espanto e preocupação, o que não é de admirar. Mas o caso agora verificado em Portugal, com a subida eleitoral de um partido racista, fascista e xenófobo, não significa, como notou Pedro Nuno Santos, que haja um milhão de racistas, fascistas e xenófobos entre nós. Então como se explica o fenómeno? Voto de protesto? Também não é suficiente para uma justificação. Em primeiro lugar, trata-se de um fenómeno global: temos o Trump nos Estados Unidos, o Bolsonaro no Brasil, e na Europa vários países com esta mancha negra, como a Holanda, a Hungria, Espanha, Itália, Suécia e outros com os seus “chegas”. Em Portugal, o caso parece explicar-se assim: ingenuidade e, nalguns casos, ignorância. Ingenuidade, porque o povo acreditou nos estafados slogans populistas “corrupção”, “insegurança”, “imigração”, “nacionalismo”, acreditando ainda que o dinheiro vai cair do céu para acabar com todos os problemas que eles garantem resolver duma penada. Ingenuidade ainda, por não perceberem que os Venturas deste mundo não passam de uns oportunistas que sabem explorar os sentimentos primários das pessoas e se estão a marimbar para os problemas das suas vidas. A ignorância pode ilustrar-se nesta simples questão: saberão os votantes do Chega quem são os indivíduos mais próximos do chefe Ventura? E conhecerão os “rabos de palha” que eles arrastam atrás de si? No início desta semana já o Chega contava com dois deputados da emigração, pois tem a equipa de propaganda de Bolsonaro e as igrejas evangélicas em ação. Claro que há também, em Portugal, gente profundamente racista e xenófoba, que esperava ansiosamente por um partido que lhe desse voz. Pois ele aí está.

Afonso Luís
Bancário aposentado

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