O Fórum Terra Mágica das Lendas, da Benedita fez ao longo de mais de um ano a Rota Estrada D. Maria I / D. Maria Pia, que atravessa, o concelho de Rio Maior, Batalha e Alcobaça. Nas terras destes concelhos, por onde a rota passa, recolheu relatos e memórias.
Por ocasião, das Jornadas Europeias do Património, no dia 23 de setembro, foi inaugurado, junto das árvores plantadas e/ou adotadas em todos os lugares, um totem com código QR. Onde é possível aceder a alguns factos, fotos e memórias desses lugares, com testemunhos de várias pessoas. Património material e imaterial que O ALCOA dá a conhecer.

Benedita, Lagoa de Frei João

Benedita, Lagoa de Frei João

O Alvará de 28 de março de 1791, no ponto XV, refere os procedimentos a ter em conta para a expropriação de terrenos necessários. Desconhecemos se essas regras foram ou não utilizadas para o delineamento do troço da estrada que dividiu os terrenos da Quinta do Retiro, mais tarde chamada Quinta da Serra, entre a Moita do Gavião e os carvalhos da Violante, perto da Rochata. Por isso, o Município de Alcobaça, quando adquiriu a Quinta da Serra, ficou dono dos terrenos a oeste do IC2, em frente à zona industrial da Benedita. Ainda é visível lá a antiga estrada D. Maria Pia, bem como parte dos muros, que obrigatoriamente a delimitavam, e ainda existe um aqueduto que servia para desviar as águas que naquela zona surgiam nos invernos, até que os algares as sugassem.
O Totem da Benedita está situado na Lagoa de Frei João, em frente da Taberna centenária da Ti Maria Galinha. Há nele fotos da plantação de árvores e testemunhos de moradores dessa estrada, cujas memórias começam na zona de estrada de terra, junto dos Carvalhos da Violante e continuam por sapateiros, mercearias, pelos “Coimbra”, trabalhadores das pedreiras, vindos de fora. Júlio Carriço, que muito bem os conheceu, foi o convidado de honra para a cerimónia do retirar da bandeira, da Confederação das Coletividades neste ato de inauguração. Foi ele que também deu várias explicações sobre os Coimbra, que a maioria dos presentes no local desconhecia. Sucedem-se outras memórias até à Lagoa de Frei João e à nascente o lagar, que lá existia.
Esse espaço foi atualmente recuperado para a Associação Desportiva e Cultural Frei João, associação parceira nesta Rota D. Maria I / D. Maria Pia na Benedita. Nesse espaçoso recinto com equipamento próprio para crianças, piqueniques e devoção a São João existe uma oliveira galega, que foi aí plantada também a 25 de março deste ano, por Hermínia Ferreira de 96 anos e que nesta data, 23 de setembro, foi junto dessa oliveira homenageada. Contudo, a árvore “própria do terreno” escolhida para ser plantada à beira da estrada nesta rota é uma nogueira oferecida por Maria Manuela, trineta de Maria Galinha, que ainda hoje colabora nesse estabelecimento com Pedro, seu marido.
Foi Trindade Quitério, residente na América, que plantou essa nogueira, em tributo, não só aos residentes, como também aos “Coimbra” e aos que, como no seu caso, lá nascidos, tiveram que emigrar. Trindade saiu do país com dois anos. Adora Portugal, fala muito bem o português, que aprendeu na América com a sua avó Felicidade.
Os pais de Trindade, emigrantes na América, pediam aos filhos que lhes ensinassem o inglês, língua que queriam treinar em casa, mas a sua avó transmitiu à neta o património da língua portuguesa, que não esqueceu naquela terra tão longínqua da sua estalagem. Por isso a sua neta aceitou relembrar mobilidades e trajetórias dos seres humanos, que nem sempre vivem onde nasceram. A sua história é um exemplo de Património Vivo, tema este ano escolhido pelas Jornadas Europeias do Património, onde se integrou esta atividade. Agradecemos às associações locais: Relgráfica, Julipedra, Icel, junta de freguesia e comunicação social