Conseguir levar por diante um projeto, apesar de todas as burocracias, dificuldades e obstáculos, é já por si só uma «boa colheita». É de plantar para depois se colher que se fala nesta edição d’O ALCOA. Semanalmente, a partir de maio, o Mercado Municipal de Alcobaça ganha um novo comerciante, a família de Inês Coelho e as suas «caixinhas» de mirtilos “Eccentrik”. Cultivados na Maiorga, estes frutos são fruto de um trabalho levado em mãos, por esta família. Numa propriedade outrora cultivada pelo seu avô, estas pequenas bagas, para o roxo escuro, toldam a paisagem, misturando-se com as restantes plantas, árvores e arbustos. Tudo integrado e pensado para que a natureza funcione ao seu ritmo, sem químicos que possam acelerar qualquer processo. Naquele cenário, há espaço para um habitat, como galinhas, coelhos, ratos-do-campo, rãs ou sapos e insetos tais como as abelhas, tão importantes para o ecossistema. Mas ter uma produção biológica familiar não é fácil e entre as dificuldades encontram-se a de alcançar mercados, ou apoios, muitas vezes de instituições públicas ou ligadas ao setor. Depois, há as regras do próprio mercado e as exigências dos consumidores que obstaculizam o processo – exigências como ter uma fruta bonita ou com um tamanho considerável para poder ser comercializada.
O granizo que caiu na região, no início da primavera, deixou a colheita de mirtilos da família de Inês Coelho pouco bonita. A intempérie não lhes retirou o sabor e o valor nutritivo, mas encerrou-lhes a possibilidade de poder escoar parte da produção para outros mercados. Esta impossibilidade não é caso inédito, infelizmente parece que valorizamos mais o que vemos sem considerar o que verdadeiramente interessa, o conteúdo. E este conteúdo, garanto-vos, é «mirtilosamente» saboroso.