Não gosto de refugiados? Passo a explicar. Não gosto da guerra. Que causa refugiados…
Entre tanto que me encanta no amor de Deus, está a sua prodigiosa criatividade que nos fez, a cada um, únicos e irrepetíveis. Fascina-me a diversidade do género humano que brotou da imaginação amorosa do nosso Deus, que nos ama desde o início: a cada um, com um amor que personaliza, que nos dá uma dignidade igual a todos e, ao mesmo tempo, uma identidade toda própria e distinta. Sempre gostei da alteridade, do outro, do diferente. Das pessoas de outras regiões e de outros países. De outras cores, de outras etnias e culturas. Por isso, estudei Relações Internacionais.
Por isso, me apaixonei pelo turismo, área em que ensino e investigo. Seduz-me a mobilidade das pessoas, de qualquer parte do mundo, quer viajem por motivos de trabalho, de estudo ou de lazer, quer mudem de terra ou de país. Só não gosto dos refugiados. A frase é provocatória. Na verdade, do que não gosto é de que alguém, seja quem for, se veja na situação de refugiado. Recordo um sírio de Alepo a chorar, na rádio, que não queria deixar a sua terra. Durante séculos, o tráfico da escravatura fez uma sangria ao continente africano. As sangrias continuam. Pessoas que deixam o seu país não por decisão própria, mas expulsas pela guerra, pela fome, por perseguições. Os países ficam devastados, espoliados de muitos dos seus. Por isso, acolher os refugiados é só metade da solução. O debate sobre os refugiados fica, muitas vezes, a meio: acolhamos os refugiados, claro que sim. Mas façamos também pressão para a solução do problema até à fonte do problema. Falo (também) da Ucrânia. Há que evitar a todo o custo uma guerra mundial, mas durante anos ignorou-se o elefante na sala. Quanto mais o elefante cresce, mais perto um conflito global. O Ocidente tem de pensar no hoje e no amanhã. E nós percebermos que defender os outros é defendermo-nos a todos. “Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são um em Cristo Jesus” (Gal 3, 28).