As propostas loucas voltaram!
No artigo de há quinze dias, a propósito do que alguns têm sugerido nos meios de comunicação, recordei o anticlericalismo da Revolução Francesa, que pretendeu obrigar os padres a casar e queria instituir uma igreja nacional, concorrente da Igreja católica unida ao Papa. Estes projectos repetem-se desde há muitos séculos, em variantes com pouca imaginação. Em geral, os principais proponentes sabem bem o que querem, mas também há quem os siga sem perceber bem o que está em causa.
Um dos elementos característicos é tentar substituir a Igreja fundada por Cristo por uma igreja alternativa, fundada pelo Governo. É o caso da igreja nacional chinesa, das igrejas nacionais de outros países e, em épocas recuadas, é essa a origem de diversas igrejas ortodoxas e algumas comunidades protestantes.
O empenho de casar os padres é outro elemento recorrente destas estratégias, em muitos casos directamente associado ao objectivo de abolir o sacramento da Confissão.
Para não se pensar que as loucuras que estão a surgir nos nossos dias são propostas inovadoras, vale a pena referir mais um exemplo histórico, o México da primeira metade do século XX.
Em 1911, as forças maçónicas e anticlericais dominaram a revolução que derrubou o Governo de Porfirio Díaz e iniciaram duas décadas sangrentas de perseguição à Igreja, que culminaram na chacina dos «Cristeros». O nome vem de que, desafiando o pelotão de fuzilamento, os católicos gritavam «¡Viva Cristo Rey!» antes de serem fuzilados. E foram mortos aos milhares.
Os revolucionários mexicanos inspiraram-se nos ideais da Revolução Francesa e copiaram os métodos, trocando a guilhotina pelo pelotão de fuzilamento. Assim, o Governo mexicano fundou a «Igreja Católica Apostólica Mexicana» (que não conseguiu nenhum aderente!), suprimiu as ordens religiosas, limitou o número de padres, proibiu a realização de cerimónias fora dos lugares de culto, proibiu o uso do cabeção eclesiástico, privou os padres de muitos direitos civis e, como se disse, mandou matar milhares de pessoas. Paralelamente, os revolucionários tinham liberdade para profanar as igrejas e destruí-las, o que fizeram em grande quantidade.
Uma obsessão particular consistia em obrigar os padres a casar e proibir o sacramento da Confissão. Os políticos da época estavam convencidos de que o celibato dos padres e a Confissão sacramental constituíam «uma grande imoralidade». Em 1914, o Estado do México decretou: «Fica absolutamente proibida a prática da Confissão, tanto dentro como fora dos templos e, se for descoberta alguma infracção a esta disposição, o Ministro infractor será castigado com o desterro do Estado ou do país, e inclusivamente com a pena capital». Em 1925, o Estado de Tabasco aprovou uma lei que obrigava os padres a casarem-se para poderem exercer o seu ministério. Como nenhum padre aceitou, esta medida fez com que todos os padres passassem à clandestinidade.
O General Vargas dizia a Pedro Quintanar, um dos «Cristeros» principais: «Eu até gostaria muito da vossa seita católica se fosse nacional, isto é, se os senhores nomeassem um Papa mexicano e se abolissem a imoral confissão e o celibato do clero».
Em 1926, uma carta conjunta do episcopado mexicano queixava-se das humilhações e das condições impossíveis impostas pelo Governo, por exemplo esta, de obrigar os padres a contraírem matrimónio. Nesse mesmo ano, o Papa Pio XI publicou uma Encíclica a protestar contra este e outros abusos do Governo mexicano.
Em virtude destas reacções e de uma certa pressão dos países civilizados, a perseguição mexicana diminuiu a partir de 1929 e, sobretudo a partir dos anos 40. Não tanto por as leis terem sido corrigidas como por se terem deixado de levar à prática. Quando o Papa João Paulo II viajou ao México, o Governo ainda lhe quis aplicar a proibição de usar em público um traje eclesiástico, mas João Paulo II negou-se e o Governo não teve coragem de aplicar a lei ao Papa.
Tal como o texto de há quinze dias, este artigo baseia-se no capítulo escrito por Carlo Pioppi para o livro «Il Celibato Sacerdotale, Teologia e Vita», organizado por Laurent Touze e Marcos Arroyo.
Podem acrescentar-se muitos exemplos históricos, que, como escreveu Pio XI na sua Encíclica dirigida ao Governo mexicano, dariam vontade de rir se não fizessem correr tantas lágrimas.