O empenho de casar os padres

José Maria André
Professor do I. S. Técnico

As propostas loucas voltaram!

No artigo de há quinze dias, a propósito do que alguns têm sugerido nos meios de comunicação, recordei o anticlericalismo da Revolução Francesa, que pretendeu obrigar os padres a casar e queria instituir uma igreja nacional, concorrente da Igreja católica unida ao Papa. Estes projectos repetem-se desde há muitos séculos, em variantes com pouca imaginação. Em geral, os principais proponentes sabem bem o que querem, mas também há quem os siga sem perceber bem o que está em causa.

Um dos elementos característicos é tentar substituir a Igreja fundada por Cristo por uma igreja alternativa, fundada pelo Governo. É o caso da igreja nacional chinesa, das igrejas nacionais de outros países e, em épocas recuadas, é essa a origem de diversas igrejas ortodoxas e algumas comunidades protestantes.

O empenho de casar os padres é outro elemento recorrente destas estratégias, em muitos casos directamente associado ao objectivo de abolir o sacramento da Confissão.

Para não se pensar que as loucuras que estão a surgir nos nossos dias são propostas inovadoras, vale a pena referir mais um exemplo histórico, o México da primeira metade do século XX.

Em 1911, as forças maçónicas e anticlericais dominaram a revolução que derrubou o Governo de Porfirio Díaz e iniciaram duas décadas sangrentas de perseguição à Igreja, que culminaram na chacina dos «Cristeros». O nome vem de que, desafiando o pelotão de fuzilamento, os católicos gritavam «¡Viva Cristo Rey!» antes de serem fuzilados. E foram mortos aos milhares.

Os revolucionários mexicanos inspiraram-se nos ideais da Revolução Francesa e copiaram os métodos, trocando a guilhotina pelo pelotão de fuzilamento. Assim, o Governo mexicano fundou a «Igreja Católica Apostólica Mexicana» (que não conseguiu nenhum aderente!), suprimiu as ordens religiosas, limitou o número de padres, proibiu a realização de cerimónias fora dos lugares de culto, proibiu o uso do cabeção eclesiástico, privou os padres de muitos direitos civis e, como se disse, mandou matar milhares de pessoas. Paralelamente, os revolucionários tinham liberdade para profanar as igrejas e destruí-las, o que fizeram em grande quantidade.

Uma obsessão particular consistia em obrigar os padres a casar e proibir o sacramento da Confissão. Os políticos da época estavam convencidos de que o celibato dos padres e a Confissão sacramental constituíam «uma grande imoralidade». Em 1914, o Estado do México decretou: «Fica absolutamente proibida a prática da Confissão, tanto dentro como fora dos templos e, se for descoberta alguma infracção a esta disposição, o Ministro infractor será castigado com o desterro do Estado ou do país, e inclusivamente com a pena capital». Em 1925, o Estado de Tabasco aprovou uma lei que obrigava os padres a casarem-se para poderem exercer o seu ministério. Como nenhum padre aceitou, esta medida fez com que todos os padres passassem à clandestinidade.

O General Vargas dizia a Pedro Quintanar, um dos «Cristeros» principais: «Eu até gostaria muito da vossa seita católica se fosse nacional, isto é, se os senhores nomeassem um Papa mexicano e se abolissem a imoral confissão e o celibato do clero».

Em 1926, uma carta conjunta do episcopado mexicano queixava-se das humilhações e das condições impossíveis impostas pelo Governo, por exemplo esta, de obrigar os padres a contraírem matrimónio. Nesse mesmo ano, o Papa Pio XI publicou uma Encíclica a protestar contra este e outros abusos do Governo mexicano.

Em virtude destas reacções e de uma certa pressão dos países civilizados, a perseguição mexicana diminuiu a partir de 1929 e, sobretudo a partir dos anos 40. Não tanto por as leis terem sido corrigidas como por se terem deixado de levar à prática. Quando o Papa João Paulo II viajou ao México, o Governo ainda lhe quis aplicar a proibição de usar em público um traje eclesiástico, mas João Paulo II negou-se e o Governo não teve coragem de aplicar a lei ao Papa.

Tal como o texto de há quinze dias, este artigo baseia-se no capítulo escrito por Carlo Pioppi para o livro «Il Celibato Sacerdotale, Teologia e Vita», organizado por Laurent Touze e Marcos Arroyo.

Podem acrescentar-se muitos exemplos históricos, que, como escreveu Pio XI na sua Encíclica dirigida ao Governo mexicano, dariam vontade de rir se não fizessem correr tantas lágrimas.

José Maria André
Professor do I. S. Técnico

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