O som da inocência

P. Tiago Roque
Pároco de Alcobaça e Vestiaria

Na semana passada, fui convidado, por uns amigos, para ir ao cinema. O filme sugerido foi o “Som da Liberdade”, o qual aborda o tráfico de crianças. Fui na certeza de que não ia para descansar, espairecer ou desanuviar. Senti que me esperava o desbravar de uma verdade escondida no nosso mundo e que afeta os mais inocentes da sociedade.
Tudo começa com a participação dos irmãos hondurenhos Rocío e Miguel num casting de talentos. O pai, após alguma renitência, acaba por conduzi-los à «toca do lobo». Entrega-os a uma adulta desconhecida, que lhe assegura de que tratará bem dos seus pequenos. Quando regressa àquele local, não havia qualquer rasto das crianças.
Neste filme, realizado pelo mexicano Alejandro Gómez Monteverde, duas imagens marcaram-me particularmente. A primeira é a do pai, que, deparando-se com uma sala vazia, desce com a toda a pressa para procurar os filhos. Vemo-lo numa rua escurecida pela noite. Ou por algo mais que a noite. Não se vê sinal de pessoas que possam colaborar. Ninguém viu. Ninguém sabe. Ninguém se quer envolver. Um homem perdido num mundo imenso. Naquele momento, as crianças poderiam já ter sido enviadas para uma qualquer parte do planeta. A sua casa esvazia-se. Perde o que tem de mais precioso, numa quase certeza de que não mais voltará. A segunda imagem que mais me tocou foi a de uma fotografia tirada ao pequeno Miguel durante o casting. No rosto do menino, de sete anos, não vemos ambição, nem entusiasmo pela fama. Contemplamos apenas inocência e incompreensão. A fotografia veio a ser adicionada a um catálogo, com o intuito de que ele viesse a ser comprado por adultos interessados. Introduzido na rede de tráfico sexual de menores, Miguel perde tudo. É retirado ao pai. É separado da sua irmã. Perde até o próprio nome. Ao terminar o filme, concluímos que importa fazer algo. Importa seguir o exemplo de Tim Ballard, o protagonista, representado pelo ator Jim Caviezel, que deixa tudo para trás para salvar estas crianças. Os obstáculos são inumeráveis. Mas é a sede de salvar que o move.
O cinema tem um papel importante na nossa vida. É sabido que a escravatura continua a acontecer e que uma grande parte destes novos escravos são crianças. Milhares delas. Mas sentirmo-nos dentro de uma história verídica muda tudo. Não queremos que flagelos deste tipo continuem a suceder. Queremos um mundo novo!

P. Tiago Roque
Pároco de Alcobaça e Vestiaria

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