Os agricultores beneditenses

João Luís Maurício
Professor de História aposentado

Há oitenta anos, a terra era, sem dúvida, uma verdadeira comunidade rural, um grupo social homogéneo em que todos eram a mesma realidade com os seus padrões religiosos, sociais e culturais. Trabalho, seriedade e honradez eram um triângulo de valores que passavam de geração em geração.

Nesse tempo, a Benedita era uma terra pobre, muita gente ia para o Ribatejo, para as culturas do milho, do trigo, para a apanha da azeitona, para as vindimas, facto que se verificou até ao início dos anos sessenta do século passado.

Em tempos ainda mais recuados, nos finais do século XIX, ia-se trabalhar para Lisboa, para as mondas e ceifa do trigo, na zona das atuais avenidas novas.

Até à década de sessenta do século passado, em algumas zonas ouvia-se cantar o cuco. Ele saudava o aparecimento da primavera e começava o seu canto, normalmente, um pouco antes do amanhecer. A chegada do cuco, para os agricultores beneditenses era importante. Por exemplo, a poda das videiras deveria ser feita antes do cuco chegar.

Vem-me à memória um universo de utensílios deste mundo rural beneditense. Lembro-me das grades, dos pulverizadores da Casa Hipólito, de Torres Vedras, das forquilhas, dos cestos das vindimas, dos almudes, dos gasómetros, dos alforges, do barulho dos chocalhos dos animais, das charruas, das cangas, das carroças puxadas por burros, dos carros de bois, das enxadas rasas, das caixas para o sal, dos sachos de mondar, das enxadas de pontas, das roldanas nos poços, dos regadores de folha de Flandres, das foices, dos ancinhos, das facas para raspar os porcos depois de mortos, das almotolias, do podão, das ferraduras, das candeias de azeite, dos alguidares de barro, vidrados e gateados, dos lavatórios de ferro pintado, com balde de ferro esmaltado.

A freguesia da Benedita tinha propriedades muito divididas. As famílias tinham várias courelas. Eram muito poucos os grandes proprietários.

Os trabalhos mais pesados eram atribuídos aos homens: cavar, semear, podar, sachar, enxertar, tratar do chamado “gado grosso”. As tarefas menos árduas eram dadas às mulheres: vindimar, ceifar, tratar do gado miúdo e das capoeiras, apanhar a azeitona.

Nos campos, os cavadores trabalhavam de sol a sol. A apanha da azeitona era um ciclo que se repetia anualmente.

Ao acaso, deixo, aqui, os nomes de alguns agricultores beneditenses e a data mais antiga da documentação que sobre eles encontrei.

António Henriques (1932) / António Ferreira Serrazina (1936) / António Joaquim do Carmo (1936) / António Joaquim Marques (1936) / António Maria Ferreira (1932) / António Pedro de Almeida (1896) / Crisóstomo dos Santos (1933) / Jacinto Moreira (1933) / João Lourenço Gerardo (1932).

João Luís Maurício
Professor de História aposentado

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