Passaram cinquenta anos desde o 25 de Abril. Dia em que o nosso país passou a uma nova etapa da história. Liberdade é o conceito central associado a este acontecimento. Mas como podemos nós defini- -lo satisfatoriamente? Em que consiste ser livre?
Em primeiro lugar, creio que existe um laço intrínseco entre liberdade e perfeição. Quem não deseja ser perfeito? Ao vencermos os nossos defeitos e ao transpormos os obstáculos da vida, deixamos para trás todo o tipo de grilhões. Caminhamos então a passos largos para uma mais plena versão de nós mesmos. Ambicionamos também um mundo renovado e que se torne lugar de paz, onde a humanidade deixe de ser entendida como uma imensidão de indivíduos para se entender como família. Apesar de todos aplaudirmos o 25 de Abril como a passagem para a liberdade, continuamos a ter muito que fazer nesta matéria. Quantas formas de escravatura continuam a manifestar-se ainda hoje! Sempre que concebo o outro como uma peça de tabuleiro da qual posso pôr e dispor a meu bel-prazer, impeço a evolução e o progresso da humanidade. Escutámos, há dias, as palavras de angústia do cardeal D. Américo Aguiar, a propósito da morte e do desaparecimento de “mariscadores” asiáticos no Tejo. O bispo de Setúbal disse sentir-se impotente diante da situação, ao deparar-se com uma indiferença geral face ao sucedido e com a exploração e atividade ilegal à qual muitos são ainda sujeitos no nosso país. De facto, a liberdade entendida sem a fraternidade é como uma maçã de bela aparência, mas completamente podre no seu interior.
Para nós cristãos, liberdade é vida em perfeição. E vida em perfeição é amor. Subjugar os outros é por isso ausência de liberdade tanto para a vítima como para o agressor. O 25 de Abril não resolveu tudo. Urge parar e refletir.