Recordação. A praça antiga da Benedita

Fernando Guerra Ferreira

Conheci a praça antiga entre os meus seis e 16 anos (1936-1946). Realizava-se aos domingos. Situava-se desde o poço (poço da praça) e estendia-se até à zona onde é hoje o largo dos Carmos. A propósito do “poço da praça“ parece-me incorreta a designação toponímica “Largo do Poço”. Parece-me que deveria ser: “Largo do Poço da Praça”.
À volta do poço começava a praça. Aí se vendiam produtos hortícolas. Na praça havia peixe, frutas, batatas…. Enfim tudo o que era comestível. Apesar das tabernas fixas, na praça armavam uma ou outra tenda como taberna. Aí se bebia e conversava-se e, às vezes, bebia-se de tal maneira que alguns homens já iam “pingados” para casa. À volta do coreto e do cruzeiro, conversava-se, negociava-se, convivia-se. Uma observação: o coreto foi destruído porquê? Para facilitar o trânsito na estrada nacional? Se foi por esta razão não haveria outras soluções para o conservar? Ou a destruição do coreto faz parte de outras de valores artísticos e históricos de Benedita?! Não esquecer que recordar e fazer memória faz-nos humanos.
Continuo a falar da praça: o cruzeiro restaurado ainda lá está. Era ponto de reunião, de convívio. Ainda, hoje é. São valores a não perder. Havia uma missa às 7h00. A maioria dos beneditenses iam à missa. A praça estava muito ligada à missa. Ia-se à missa, comprava-se e vendia-se na praça, convivia-se. Sobre o convívio refiro um pormenor: os sapateiros na mesma oficina (não havia fábricas) durante a semana, encontravam-se na praça, com o seu fato domingueiro, e cumprimentavam-se, como se já não se encontrassem há muito tempo.
Refiro, ainda, os leilões feitos pelo Sr. Manuel Traquina, homem bom e zeloso. Havia ofertas várias, animais de capoeira, nomeadamente, para as almas. Eram vendidas, em leilão, na praça, junto ao cruzeiro pelo Sr. Manuel Traquina. Era ele que, antes da missa, orientava as rezas pelas almas. Da praça antiga nasceram várias praças, noutros lugares, a praça atual e o mercado de Santana. Uma observação: o mercado de Santana não poderia ter sido em Benedita?!…

Fernando Guerra Ferreira

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